Há algumas décadas a Castanha do Brasil colhida no Acre não tinha o melhor dos destinos. Vendida “in natura”, ainda na casca, e com um preço absurdamente baixo, centenas de produtores acreanos abarrotavam galpões até o teto e vendiam diretamente, sem valorizar o produtor e vendo o fruto voltar para o estado já industrializado, a um preço mais caro. Agora os tempos são outros, esse caminho se inverte e atualmente não só a castanha colhida no Acre tem sido beneficiada em fábricas da própria região, como lotes e lotes do fruto de outros estados atravessam nossa fronteira adentro para serem beneficiados e passarem a ser mais valorizados aqui.
“Com a nova indústria vamos precisar de mais castanhas. Estamos comprando de Rondônia, Amazonas e estamos negociando comprar até do Pará para beneficiar aqui”
Manoel Monteiro, superintendente da Cooperacre
A safra da castanha tem um período certo para começar e terminar. Do final de dezembro até abril. E embora os produtores acreanos estejam animados com o valor do produto para esse ano, só a safra acreana não é o suficiente para abastecer as fábricas de beneficiamento de castanhas existentes atualmente no estado. Somente a Cooperativa Central de Comercialização do Acre (Cooperacre) já comprou 60 toneladas de castanha de Rondônia, num processo que só foi possível a partir de uma importante parceria com o governo do Estado.
Francisco Paulo de Oliveira trabalha há mais de 20 anos com o comércio do fruto. Morador de Vila Nova Califórnia, distrito de Porto Velho (RO), ele acredita que esse ano o comércio de castanhas está mais animado. “O preço esse ano tá melhor do que o ano passado. O governo do Acre fez o preço melhorar. Há 20 anos o litro [que pesa de 10 a 12kg] era vendido a R$ 3, R$ 4 no máximo. Hoje tá entre R$ 20 e R$ 24”, conta o comerciante, que percorre toda a região de fronteira entre Acre e Rondônia comprando toda a castanha possível dos pequenos produtores e revendendo para a Cooperacre.
A castanha que entra no estado comprada pela cooperativa também segue todos os procedimentos corretos, com pagamentos de impostos, como o ICMS, que só tem a contribuir com a economia do estado. “É uma rede. O governo do estado incentivou durante todo esse tempo a valorização do produto, a Cooperacre conseguiu crescer e expandir seus negócios, temos mais rendimentos e todos passam a ter mais renda, além da arrecadação”, explica José de Freitas, representante da Cooperacre que acompanhou a negociação de castanhas em Nova Califórnia.
Um novo momento da castanha
“Antes o acreano mandava castanha para ser processada em outros estados brasileiros e até na Bolívia, agora, o caminho inverso está acontecendo”, fala Edvaldo Magalhães, secretário de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens). Para se ter uma ideia, o governo do Estado tem investido numa terceira usina de beneficiamento de castanha em parceria público privada com a Cooperacre, num investimento de mais de R$ 10 milhões.
Só esse ano, duas mil toneladas de castanhas devem ser beneficiadas no estado, 500 toneladas a mais que no ano passado. “Com a nova indústria vamos precisar de mais castanhas. Estamos comprando de Rondônia, Amazonas e estamos negociando comprar até do Pará para beneficiar aqui”, explica Manoel Monteiro, superintendente da Cooperacre.
A nova usina de beneficiamento, localizada no Parque Industrial de Rio Branco é gigantesca. Só de empregos diretos serão gerados 100 postos. E a previsão é que seja inaugurada em abril desse ano ainda. Junto com as fábricas de beneficiamento em Xapuri e Brasileia, a castanha acreana passa a tomar um novo formato. E o produto final? “O Brasil inteiro está comprando nossa castanha. Estamos vendendo para todos os estados e queremos exportar também”, diz um empolgado Manoel Monteiro.