A cada dia chegam em média 70 haitianos no abrigo montado num antigo clube social em Brasileia, distante 220 quilômetros da capital acreana. O movimento de táxis vindo de Assis Brasil, fronteira com Iñampari, no Peru, é constante. A cidade virou o ponto de acolhida para os refugiados e voltou a viver uma situação preocupante: hoje são mais de 1300 abrigados na fronteira e o governo do Acre não tem condições de acolher este número de pessoas.
A pedido do governador Tião Viana uma comitiva formada por secretários de Estado foi ao abrigo para verificar as condições atuais, apontar as principais dificuldades e soluções imediatas para as questões prioritárias. Os secretários de Segurança Pública, Reni Graebner, Assistência Social, Antônio Torres, Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão e coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Gundim, estiveram no abrigo para acompanhar in loco a situação dos haitianos.
“Vamos apresentar o Plano de Resposta, elaborado pela Defesa Civil, ao governador e encaminhar à Defesa Civil Nacional, junto com o decreto de situação de emergência social. Algumas providências precisam ser tomadas para melhorar a condição imediata do abrigo, como goteiras e melhorias nos banheiros”, disse o secretário de Segurança. Graebner ressalta que os haitianos são ordeiros e pacíficos e lembrou da necessidade de realizar um trabalho preventivo na área de saúde.
“Situação das mulheres é mais delicada”, diz haitiano
O secretário de Assistência Social, Antônio Torres, que também mantém uma equipe no abrigo, lembra que o trabalho de ajuda humanitária é prestado, todos eles passam por um processo de entrevista ao chegarem e são encaminhados para a expedição dos documentos necessários.
Naib Dorvil, pastor e um dos imigrantes, pede atenção principalmente para a situação das mulheres, que são cerca de 170. “Gastamos muito dinheiro para chegar até aqui e já não temos mais nada. Os homens têm mais oferta de emprego e a situação das mulheres é ainda mais difícil. Além disso, esse ambiente não é adequado para elas. Elas sabem cozinhar, podem auxiliar em restaurantes, e podem trabalhar também em fábricas de confecções”, disse o haitiano.
Para entender a situação dos haitianos no Acre:
– O Haiti é a nação mais pobre da América
– Foi a primeira República negra, fundada em 1804 por antigos escravos. Era uma colônia francesa antes disso.
– Em 2010 o país foi atingido por um terremoto que matou 300 mil pessoas, deixou 1,5 milhão de desabrigados e um prejuízo material estimado em US$ 7 bilhões
– Muitos habitantes iniciaram um processo migratório em busca de condições de trabalho e moradia. Os primeiros a deixar o país foram médicos, engenheiros, professores e outros profissionais qualificados. Boa parte chegou ao Acre e trabalha em diversos estados.
– Para chegar ao Acre um haitiano gasta em média US$ 2,5 mil e se sujeita aos coiotes – atravessadores que auxiliam os imigrantes de forma clandestina. Se eles saíssem do Haiti com um visto de trabalho no passaporte o custo da viagem seria bem menor e a entrada se daria de forma legal e facilitada.
– O Brasil é adepto pactos internacionais e acolhe os imigrantes que se enquadram na situação de causa humanitária e não fechou as portas para os haitianos.
– O Acre tem dado todo o suporte para a entrada e permanência dos imigrantes no país, facilitando a documentação e o ingresso no mercado de trabalho, além de oferecer abrigo temporário, alimentação, assistência social.