Ministro do Meio Ambiente e Desenvolvimento conhece práticas sustentáveis acreanas
Há vinte anos, quando o hoje ministro do Meio Ambiente e Desenvolvimento da Noruega Erik Solheim esteve em Xapuri, o líder seringueiro Chico Mendes havia sido assassinado há pouco tempo e o Estado era notícia negativa na imprensa mundial. A floresta vinha ao chão para dar lugar aos pastos e quem tentava defendê-la era calado a bala. A realidade encontrada por Solheim e sua comitiva, que visitou o Acre esta semana, deixou outra impressão: a de um estado que se esforça para viver na floresta, da floresta e em harmonia com a floresta, com cidades limpas, um povo politizado e um governo comprometido com uma política pública de promoção do desenvolvimento sustentável.
O ministro da Noruega e sua comitiva iniciaram a agenda oficial no Estado com um jantar com o governador Binho Marques. O evento aconteceu no Afa Bistrô. "Fico muito feliz com esta visita, pois mostra como o exemplo acreano tem servido de referência na política ambiental para o mundo e que estamos fazendo o nosso dever de casa da forma correta. Também é uma oportunidade para estreitarmos os laços e firmamos parcerias importantes para o Acre", disse o governador. No encontro, Binho Marques presenteou o ministro com um baú de marchetaria recheado com bombons regionais.
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Binho Marques, governador{/xtypo_quote}
Em Xapuri, Solheim iniciou a visita pela Casa de Chico Mendes. Em seguida visitou a fábrica de preservativos, a de pisos, o Seringal Cachoeira e o Pólo Agroflorestal.
No seringal a comitiva conheceu um pouco mais sobre a política ambiental do Governo e caminhou pela floresta, conhecendo as estradas de seringa e o processo de extração do látex utilizado para a Fábrica de Preservativos de Xapuri.
A embaixadora da Noruega no Brasil, Turid Eusébio, que visitou o Acre no início de 2009, disse que fez questão de trazer o ministro Erik Solheim para que ele conhecesse de perto a política ambiental em pauta no Estado. "A Noruega é a principal financiadora do Fundo Amazônia e tem muito interesse em conhecer os projetos ambientais que são desenvolvidos nos países que recebem apoio financeiro".
O secretário de Meio Ambiente do Estado, Eufran Amaral, destacou que o Acre hoje é referência nacional em políticas de meio ambiente e tem práticas ambientais sustentáveis para apresentar, dentro da Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal. "Aproveitamos para discutir novas formas de cooperação, porque o Acre já venceu grandes desafios, mas ainda temos desafios a vencer. Com a consolidação de cadeias produtivas como a da castanha, da borracha e da madeira, precisamos agora encontrar mercados verdes para estes produtos, para garantir que o produtor que está na floresta tenha seu produto colocado no mercado com valor agregado".
As estratégias de valorização da florestal, que integram as políticas ambientais do Governo, incluem a valorização da floresta, para garantir a preservação ambiental. Segundo o secretário de Florestas, Carlos Ovídio, o Resende, há oito anos o hectare de floresta no Acre custava apenas R$ 35. "Hoje temos uma realidade diferente, em que um metro quadrado de piso de madeira custa R$ 80. As propriedades com manejo foram valorizadas e a renda dos três principais produtos de base florestal, a castanha, a borracha e a madeira, tem se mostrado alternativas extremamente viáveis para a economia".
O ministro se mostrou impressionado com as experiências que visitou e a forma como a floresta vem sendo utilizada para sua conservação, preservação e geração de renda. "Essa política de preservação da floresta que ocorre no Acre é de interesse de todos, das pessoas que moram na floresta, do Estado, do meio ambiente, do planeta. A floresta não pode caminhar sozinha e as oportunidades têm que ser aproveitadas para que as pessoas tenham renda e possam se empenhar na preservação da floresta", disse Solheim.
No Seringal Cachoeira Solheim deixou sua marca: ele e sua comitiva plantaram mudas de seis espécies florestais, incluindo seringueira, mulateiro, pata-de-vaca e paricá.
Natex é a única no mundo a utilizar látex nativo
Durante a visita da comitiva norueguesa à Fábrica de Preservativos Natex, em Xapuri, os integrantes puderam conhecer o processo de fabricação das camisinhas, que utiliza tecnologia de ponta e 90% de mão-de-obra local, além de agregar valor a um produto florestal importante para a economia das populações tradicionais.
A Natex tem capacidade instalada para produzir 100 milhões de camisinhas por ano, meta que deve ser atingida em 2010, com a operação em três turnos. Hoje, 500 famílias de seringueiros estão envolvidas com o processo de extração do látex, número que deve chegar a 700 no próximo ano. Elas recebem R$ 4,8 por litro de látex, uma vitória para o extrativismo, um processo que estava em decadência e pagava cerca de R$ 1,3 pelo quilo da borracha.
Segundo o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Nilton Cosson, o uso de látex de seringais nativos traz inúmeros benefícios. Um deles é a capacidade de elasticidade da borracha, que chega a 80% quando o látex é extraído de seringueiras naturais. O látex de seringais plantados tem capacidade média de 55% e seus melhores índices chegam a 65%.
Além disso, há o beneficio social: "A fábrica trouxe uma nova esperança para o seringueiro, que hoje vende um produto valorizado e consegue obter renda da floresta, preservando-a em pé. Eles são os grandes guardiões da floresta, pois obtêm seu sustento dela e precisam que ela esteja preservada", destacou.
Com a instalação da Natex, muitas famílias de extrativistas que migraram para as cidades e estavam desempregadas voltaram para as colocações e agora têm fonte de renda segura.
Metade da matéria-prima da fábrica de pisos vem das comunidades tradicionais
Há dez anos 80% da madeira que saia do Acre era ilegal. Além disso, saia como matéria-prima. A política de Governo foi trabalhada para que fosse agregado valor ao produto, beneficiando as comunidades tradicionais e aumentando a circulação de capital no Estado. Uma das provas de que esta foi uma decisão acertada é a fábrica de pisos de Xapuri. Metade da madeira utilizada é proveniente de áreas de manejo de comunidades tradicionais – todas legalizadas – incluindo o Seringal Cachoeira, onde nasceu e trabalhou Chico Mendes.
Em visita à fábrica, o ministro do Meio Ambiente e Desenvolvimento da Noruega conheceu todo o processo de fabricação de pisos e decks de madeira. Toda a produção é comercializada no mercado brasileiro ou exportada. Hoje o empreendimento conta com 150 funcionários diretos e cerca de 250 manejadores agregados.
"Antes nós não tínhamos um comprador certo para a madeira e não conseguíamos vender nosso produto e não conseguíamos um bom valor. Uma das principais mudanças pra gente em relação à fábrica foi esta. Nós temos um cliente certo e recebemos bem mais do que ganhávamos antes", disse o presidente da Cooperativa de Manejo Comunitário de Madeira, Dionísio Barbosa.
Segundo o secretário de Floresta, cada manejador ganha em média, por ano, entre R$ 3,5 mil e R$ 8 mil, com um manejo de baixíssimo impacto.
A fábrica tem capacidade de produzir mil metros quadrados de produto (piso ou deck) a cada turno de 8 horas. A capacidade de produção anual da fábrica, em valores, é R$ 23 milhões ao ano.
Cada hectare de floresta tem entre duas ou três árvores para manejar, num universo de 200 árvores adultas e mil árvores jovens. O metro quadrado do piso sai por R$ 70 para o mercado brasileiro e U$ 35 para o mercado externo.
Pólo Agroflorestal: experiência que transforma vidas
A última experiência visitada pelo ministro norueguês e sua comitiva foi a que mais lhe chamou atenção: o pólo agroflorestal, uma alternativa de assentamento rural na Amazônia. A experiência inclui em sua execução a recuperação de florestas, a produção agrícola através de roçados sustentáveis e a geração de renda através da criação de frangos – que integram a cadeia produtiva das aves e abastecem o frigorífico de Brasiléia.
"Este é um modelo diferenciado de assentamento que o Estado vem fazendo e tem dado certo. O pólo agroflorestal une inclusão social com a preservação ambiental e a recuperação das florestas", explicou o secretário de Produção Familiar. Os pólos consorciam a produção de hortaliças, frutas, farinha e aves. São culturas anuais, semi-perenes e perenes, além das espécies florestais que podem ser exploradas.
Um dos assentados é no Pólo Agroflorestal de Xapuri é Raimundo Pedro, 39, presidente da Cooperativa de Produtores de Aves. Ele mudou para o pólo há quatro anos, deixando para trás uma vida de desemprego e incertezas.
"Eu não conseguia ter as condições adequadas para criar a minha família e tinha uma preocupação muito grande com os meus filhos, que podiam se marginalizar. Hoje nós temos fontes de renda seguras, qualidade de vida e meus filhos estão em segurança. Antes a gente sonhava em comprar uma televisão e não podia nem fazer planos, hoje eu tenho parabólica, TV, geladeira e qualidade de vida. Se isso tivesse acontecido na minha vida quando eu tinha 18 anos tudo teria sido diferente, mas graças a Deus a oportunidade chegou e não veio tarde", disse o agricultor.
A renda obtida com a criação de aves é fica entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil por mês, além do ganho com a venda da produção agrícola para o Governo através do programa Compra Antecipada.
Veja o video:
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