Teatro Barracão, símbolo da cultura popular do Acre, é revitalizado e entregue para a população
Nos anos 80, os grupos de teatro do Acre não tinham muitos espaços para suas manifestações. Por isso, eles se uniram e juntos lutaram por um espaço só deles. Foi então que o governo deu o que tinha, o local que antes estava destinado a ser o necrotério do Hospital Geral na época. Era pegar ou largar. E eles pegaram. O precursor dessa história foi José Marques de Sousa, o Matias, um dos maiores teatrólogos do Acre, que fundou então o Teatro Barracão, que na manhã dessa sexta-feira, 6, mesmo debaixo de uma intensa chuva, foi reinaugurado após uma revitalização que expandiu e melhorou o que já é um marco da cultura acreana.
Dezenas de pessoas se reuniram para a entrega do novo espaço do Teatro Barracão, na Baixada do Sol, entre fazedores culturais de gerações distintas, mas que se misturam e se unem em uma causa comum, expandir a cultura acreana. "A história da cultura no Acre foi feita no Teatro Barracão", afirmou Daniel Zen, presidente da Fundação Elias Mansour. Para a revitalização do Barracão, que se encontrava bastante abandonado, foram investidos R$ 125.681,78, sendo R$ 86.104 provenientes de convênio celebrado com o MinC, oriundos do projeto Rede de Pontos e Casas de Leitura, e R$ 39.577,78 de recursos próprios do Tesouro estadual.
"É um espaço da comunidade, uma porta de cultura", explica o teatrólogo Lenine Alencar, também um grande parceiro de Matias. O Barracão envolve os bairros Aeroporto Velho (Ginásio Coberto), Bahia, Sobral, Palheiral, Pista, Boa União, Glória, João Paulo, Boa Vista e Plácido de Castro, uma região que necessita desse tipo de incentivo, rica em saberes culturais e talentos a serem descobertos. A reinauguração também foi marcada pela apresentação do espetáculo teatral O Pequeno Circo e Outras Criaturas, da Companhia Circo Teatro Capixaba.
A administração do espaço passa a ser da Federação de Teatro do Acre, Fetac, e do grupo de teatro do próprio Barracão, o De Olho na Coisa. O termo de concessão também foi assinado durante a cerimônia por James Cardoso, presidente da Fetac. Além disso, as salas do Barracão foram modificadas e cada uma recebeu o nome de um artista A Sala Matias com capacidade para 150 lugares abrigará apresentações teatrais. O espaço de inclusão digital foi batizado com o nome do diretor teatral e ator, Beto Rocha; no espaço que leva o nome de Vó Nazaré, contadora de histórias e atriz, funcionará a biblioteca. A Sala Multimídia, leva o nome do poeta, compositor e bailarino Maués Melo.
Matias: de seringueiro a teatrólogo
A lembrança de Matias foi o que mais esteve presente na cerimônia de reinauguração do Barracão. Lembrança forte, que emocionou a todos os presentes, mesmo aqueles de uma geração seguinte que não tiveram tanto contato com o teatrólogo. Dos seringais do Vale do Juruá até sua participação em movimentos sociais em Rio Branco, como teatrólogo, José Marques de Sousa, o Matias, contribuiu com os movimentos sociais no Acre, utilizando o teatro para denunciar e reivindicar melhores condições de vida para as comunidades menos favorecidas.
Quando perguntando sobre a emoção de ver o espaço que seu pai criou totalmente revitalizado, Moisés Matias apenas mostra o quanto seu braço está arrepiado. "É uma emoção muito forte, uma alegria muito grande, não é um espaço comum, é um espaço onde ele passou seus anos mais férteis. Aqui ele teve vários filhos, as pessoas que ele trouxe para o teatro", disse Moisés. Muramde Souza, também filho de Matias, conta que "estou voltando para a minha casa, fui criado aqui, é o sentimento de estar voltando para a casa dos meus pais".
Marcus Vinícius, presidente da Fundação Garibaldi Brasil, disse que "quando pensávamos em manifestações culturais no Acre, tínhamos como referência o Matias. Nem todos que estão aqui sabem exatamente a força e a importância que o Matias teve". Importância essa que poderia ser vista refletida em Valério, um senhor com mais de 70 anos, que foi ensinado por Matias a andar de perna de pau e que vestido de palhaço e sorrindo bastante estava lá, com suas pernas de madeira.
Prêmio Matias de Culturas Populares
Junto a reinauguração do Teatro Barracão, Daniel Zen assinou o edital de lançamento do Prêmio Matias de Culturas Populares. O prêmio é uma iniciativa do Governo do Estado do Acre, através da Fundação Elias Mansour e tem como objetivo reconhecer e premiar Mestres e Grupos/Comunidades praticantes de iniciativas exemplares que envolvam as diversas expressões culturais populares acreanas.
Serão premiadas 10 pessoas e grupos. As inscrições já estão abertas e vão até 6 de fevereiro de 2010. Por enquanto, o edital da premiação está disponível na seda da Fundação Elias Mansour. A reinauguração do Teatro Barracão e o lançamento do Prêmio Matias de Culturas Populares aconteceram um dia depois Dia Nacional da Cultura, valorizando ainda mais a produção cultural do estado do Acre.