Produção multiplicou nos últimos anos e produto já é exportado para Manaus e Rondônia. A banana plantada no Acre abastece toda uma cadeia produtiva
Fonte de nutrientes, energia, rica em potássio e saborosa. A banana, uma das frutas mais consumidas em todo o Brasil, faz parte não apenas dos hábitos alimentares do acreanos, mas do bolso. Ela é responsável por alimentar também uma cadeia financeira que gera centenas de empregos. A produção do Acre, que é exportada para estados como Rondônia e Manaus, segundo dados da Secretaria Estadual de Fazenda, foi multiplicada nos últimos anos.
A safra de uma das espécies mais produzidas no Acre saltou de 5,4 mil cachos (em 1998) para cerca de 91 mil em menos de dez anos (2007), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até agosto deste ano já foram exportados 73 mil cachos de banana comum (prata, nanica e maçã) e 25 mil cachos de banana comprida.
A banana é encontrada em todo o Estado. Na capital, uma área com grande produção é o Projeto de Assentamento Moreno Maia. Geraldo Ângelo do Santos é um dos produtores e também um dos maiores vendedores de banana no Mercado Novo. Ele abandonou a construção civil para se dedicar ao plantio da fruta. São mais de 60 hectares plantados com diversas espécies. Para continuar com a produção, Geraldo está recebendo assistência da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) para adquirir o financiamento para tratores. "Se eu não mecanizar vai ficar difícil tocar a produção. Agora que recebemos o título definitivo da propriedade podemos acessar alguns benefícios que antes não conseguíamos", disse o produtor.
Geraldo tem em média 60 mil pés de banana plantados. No inverno, quando a produção atinge a melhor safra, ele chega a retirar 1200 cachos por semana. No verão a quantidade diminui para 800 cachos por quinzena. No verão, porém, a banana fica mais cara e cada cacho custa um pouco menos de R$ 10. Já no inverno, o mesmo cacho chega a custar R$ 3. Em época de baixa produção, o produtor chega a ganhar, em média, R$ 2 mil ao mês, descontados os custos com transporte – agora facilitado pelo melhoramento de todo o ramal e asfaltamento de um trecho – e carregamento.
Banana sem fogo
Hoje Raul Gonçalves mora numa casa de alvenaria – simples, porém confortável. Na garagem um caminhão, um trator e mais um caminhão deve chegar em breve. Na sala um televisor, aparelho de som, DVD, computador com acesso a internet. Quem o conhece hoje pode achar que a vida foi simplesmente generosa ao lhe oferecer todos os bens que possui. Mas na verdade as conquistas não têm segredo: são fruto de anos de dedicação e trabalho árduo, que continua até hoje. Seu Raul, como é conhecido, foi um dos primeiros moradores da região que hoje é o município de Acrelândia. Chegou ao Acre após passar pelo Paraná, Paraguai e Rondônia. Foi em solo acreano que ele fincou suas raízes, criou família e prosperou. O primeiro filho, que veio na barriga da esposa quando chegaram por aqui, morreu ainda recém-nascido. Foi o primeiro baque para o produtor, que morou em barracos de lona até chegar às propriedades que tem hoje. Para comprar o primeiro lote de terra trabalhou duro no corte da seringa e fazia bicos aos finais de semana. As primeiras mudas de banana foram conseguidas da mesma forma: com trabalho extra nas horas que seriam de descanso.
Há pelo menos 15 anos as terras de seu Raul, que tem duas propriedades e também compra a produção dos vizinhos para vender no Mercado Novo, em Rio Branco, não são castigadas pelo fogo. "Não gosto nem de ouvir falar em fogo. Aqui eu não uso e abro minhas porteiras para quem quiser ver como a produção dá certo sem precisar disso. E ainda ensino aos colegas que queiram aprender. Aprendi na marra e sozinho, mas hoje eu entendo que o fogo não nos beneficia em nada, ao contrário, faz é aumentar o nosso trabalho e prejudicar a terra", comenta.
No lugar do fogo ele planta leguminosas, entre elas, a mucuna. "Elas recuperam as áreas cansadas, mantém a umidade do solo e preparam a terra para o novo plantio", ensina.
O produtor aproveita os espaços livres para consorciar plantações de melancia e pepino com a banana. Também criou um sistema de irrigação utilizando mangueiras com furinhos periódicos, que irrigam o cultivo de forma rápida e eficaz.
A produção de Raul é escoada através de caminhão próprio e vendida em Rio Branco. Agora ele se prepara para voltar a exportar, a exemplo de seus vizinhos, que mandam banana para Rondônia e Manaus. Por semana são pelo menos três caminhões carregados durante o verão.
Do mercado aos carrinhos de ambulantes
A banana que vem do campo e é vendida nos mercados abastece toda uma cadeia. Os filhos da ambulante Ginedite Viana Diniz foram criados com a venda de bananinha frita. Ela deixou de vender churros para se dedicar a fritar bananas e vender no centro da cidade. Após quatro
anos fugindo do rapa, ela conseguiu um ponto próximo ao Terminal Urbano. A jornada, para ela, começa cedo e termina tarde. Às seis horas ela já está a postos em seu local de trabalho, de onde só deve sair perto da meia-noite. Como existem mais ambulantes que espaço disponível, a prefeitura organizou um rodízio e cada um trabalha três vezes por semana. "Por isso eu tenho que aproveitar o máximo de tempo possível", justifica.
Apesar do esforço, ela não abre mão da profissão que tem. "É bem melhor que ser empregada, porque o máximo que se ganha é um salário mínimo. Vendendo banana eu consigo fazer até três salários mínimos e meio". Cada ambulante consome, em média, trinta cachos de banana por semana.
Indústria vai beneficiar a banana e gerar 20 empregos diretos
Beneficiar a banana no estado, agregando valor ao produto gerando mais postos de trabalho. Este é um dos ganhos gerados com a instalação da indústria Tia Anita de Produtos Alimentícios. Banana-passa, bala de banana, farinha de banana e o doce da fruta são os principais produtos da empresa, que vai gerar cerca de 20 empregos.
A banana que será beneficiada precisa sair do campo direto para a indústria. "É para garantir a qualidade e a higienização. O transporte da banana é uma fase importante, onde todo cuidado precisa ser tomado para que ela não amasse, não danifique. Por isso eu faço questão de transportar a matéria-prima e selecionar", disse o empresário José Dazio Baima.
A indústria de banana é uma das cerca de 90 empresas no Estado que receberam os incentivos da política industrial do Governo. A Tia Anita, que nasceu de uma idéia na cabeça e um projeto rabiscado a lápis, foi beneficiada com a concessão de um terreno para instalação da fábrica e com os incentivos fiscais. Além disso, faz parte do Programa de Promoção de Negócios, o PPN, com um projeto de R$ 100 para rótulos e equipamentos.
Serão fabricados por mês, no estágio inicial, 20 toneladas de farinha de banana – que devem consumir cerca de 120 toneladas da fruta. A farinha da Tia Anita, produzida em fase teste, foi enviada para uma grande empresa multinacional do setor alimentício, que está fazendo testes para o uso do produto no pão francês.