Durante a Semana do Médico, Conselho Regional convidou o padre Léo Pessini para falar sobre o Novo Código de Ética Médica
O Conselho Regional de Medicina não deixou passar em branco a Semana do Médico e trouxe ao Acre o padre Léo Pessini para proferir uma série de conferências sobre as questões ligadas à humanização do atendimento no âmbito da saúde, a questão da ética no âmbito da saúde e também a grande novidade no Brasil agora que é o Novo Código de Ética Médica, aprovado recentemente e que entra em vigor no início do próximo ano.
O encontro em Cruzeiro do Sul aconteceu no auditório do Hospital Regional e atraiu quase a totalidade do corpo de profissionais do hospital e de outros centros de saúde.
A presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-AC), médica Dilza Ribeiro, contou que é costume do CRM, durante a Semana do Médico, promover um evento científico. Em vista da reforma do Código de Ética Médico, foi decidido trazer o padre Léo Pessini, que é doutor em bioética e assessor do Conselho Federal de Medicina nessas questões.
"Como ele participou de toda a reforma achamos que é a pessoa mais adequada para fazer estas explanações. Estamos discutindo com os médicos e divulgando também aos hospitais e à população a importância do código de ética médico para que a população e os profissionais da área de saúde também tenham noção e saibam as modificações que ocorreram", disse.
O evento em Cruzeiro do Sul serviu também para homenagear o médico Manoel Braga, que tem 35 anos de inscrição no CRM do Acre, sem nenhuma infração ética. Para Dilza, a homenagem da categoria médica é justa: "Ele merece".
Medicina no século 21
Para o padre Léo Pessini, o novo código significou o "ingresso da medicina no século 21". Ele explicou que depois da última atualização do código, em 1988, aconteceram transformações incríveis na sociedade, na economia, nas relações humanas. O Código – explicou – teve que ser atualizado frente a estas grandes novidades.
A primeira novidade que, segundo Pessini, é muito importante para o Acre é a questão da cidadania. O código não é para ser usado para defender a corporação, mas é um instrumento para promover cidadania e saúde à população e saúde até num nível ambiental, ecológico, "tão importante aqui no Acre", frisou.
Outra novidade está ligada à ética em pesquisas com seres humanos, em que o código estabelece que é preciso ver isto sempre no sentido de preservar a dignidade do ser humano; não transformar o ser humano em cobaia, mas também respeitar a ética dos animais. Esta é outra novidade que não existia nos códigos anteriores.
Ainda segundo Pessini, a terceira grande novidade está ligada á medicina genômica. "Com os grandes progressos na área da genética e genômica, hoje se pode ter um projeto de transformação total do que nós somos como seres humanos. Mas a questão é que nós temos que preservar a identidade e integridade de nosso ser, das gerações atuais e futuras".
Sobre a questão relacionada ao final da vida humana, Pessini relata que finalmente os médicos brasileiros têm uma proteção no que tange a uma abordagem humana afetiva e ética na área de final de vida. "Enquanto se diz não à eutanásia, agora este código está dizendo não também à distanásia, que é o não prolongamento do processo de morrer. Quanto o paciente está na fase final de vida, frente à morte iminente, inevitável, nós podemos e devemos renunciar às terapêuticas que dariam um prolongamento meramente de sofrimento à existência humana. Isto não é eutanásia, isto seria chamado ortotanásia, que eticamente é o recomendável. Seria a morte certa no tempo certo, no momento certo. Seria morrer com dignidade, sem abreviação de um lado e nem prolongamento do outro. Isto é um grande desafio", comentou.
Complementando seu pensamento, Pessini lembra que o novo código também trata dos cuidados paliativos: "O que a gente ouve com muita frequência no mundo da saúde; ‘não tem mais cura, não tem mais nada que fazer’. Não tem mais nada que fazer na linha da cura porque daí eu estaria praticando a distanásia. E eu tenho que evitar isto. Tem tudo que fazer na linha do cuidado e do conforto. Cuidado físico – cuidar da dor; cuidado psíquico, cuidar da afetividade e claro da espiritualidade também. Isso seria morrer sem dor, sem sofrimento, com dignidade e elegância".
O médico Marcos Lima, diretor técnico do Hospital do Juruá, considerou ‘um verdadeiro privilégio’ para a classe médica e a população do vale do Juruá ter a presença de uma pessoa como Pessini, que tem renome internacional, com vários livros escritos sobre o tema abordado. "Ele prestou assessoria para o CFM, para as mudanças que aconteceram no Código de Ética Médica e vem trazer estas mudanças que tem impacto não só para a classe médica, mas também para toda a sociedade e a gente se familiarizar com isso é uma coisa de fundamental importância".