“Queremos mecanismos concretos para manter a floresta em pé”, diz Binho a líderes políticos nos EUA

Em encontro de governadores na Califórnia e Washington, projeto acreano desponta como modelo de sustentabilidade

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Binho Marques em discurso na Califórnia (Foto: Agência de Notícias do Acre)

O governador Binho Marques concluiu nesta terça-feira, 6, uma extensa agenda de encontros na Califórnia e Washington, onde se reuniu com lideranças mundiais para discutir estratégias de preservação das florestas tropicais do planeta. Em um momento em que cientistas, pesquisadores e gestores do mundo se reúnem em torno do debate sobre o aquecimento global, o Acre desponta como um Estado de referência dentro de um modelo de sustentabilidade.

Durante a 2ª Cúpula Global de Governadores sobre Clima, primeiro encontro internacional do qual Binho participou na semana passada, na Califórnia, governadores de Estados do Brasil, Indonésia e Estados Unidos se uniram com o objetivo de propor estratégias conjuntas de apoio à preservação e sustentabilidade.

O evento foi liderado por Schwarzenegger e reuniu ainda líderes de diferentes continentes, como a África, Ásia, Europa e Américas. No encontro, Marques e os governadores Ana Júlia Carepa (Pará), Eduardo Braga (Amazonas) e Sinval Barbosa (Mato Grosso) assinaram com os demais governadores uma carta conjunta que está sendo encaminhada aos presidentes Susilo Bambang Yudhoyono, da Indonésia, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Barack Obama, dos Estados Unidos, conclamando-os a usarem suas lideranças no esforço do combate às mudanças climáticas.

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{xtypo_quote}Não queremos que nos paguem por pagar para preservar nossa floresta.
Isso é natural, fazemos por paixão.
Queremos sim parceiros porque achamos que isso é bom para o planeta.
Binho Marques, governador do Acre, durante palestra em Washington {/xtypo_quote}

Na carta, os governadores pedem aos presidentes dos respectivos países que incluam políticas climáticas florestais fortes e que ajudem os governos locais a transformar essas políticas em ações. "Nós queremos alternativas concretas de mecanismos que assegurem a floresta em pé", afirma o governador do Acre.

Em 2008, no primeiro encontro, Estados do Brasil, Indonésia e Estados Unidos, haviam assinado um acordo de cooperação para promover ações voltadas para a redução do desmatamento, contribuindo para a redução das mudanças climáticas.

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Para Marques, Chico Mendes foi umais do que um ativista ambiental (Foto: reprodução)

E nesta última segunda-feira, 5,  desta vez em Washington, Binho Marques apresentou  detalhes do projeto de desenvolvimento sustentável do Acre, a origem de um processo que se disseminou pelo mundo e os desafios das políticas públicas para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Esse projeto se fundamentou a partir da luta de Chico Mendes, disse Marques durante a palestra que teve como tema "A caminho de Copenhagen: avanços de desafios do desenvolvimento sustentável na terra de Chico Mendes", proferida no encontro de governadores que ocorre nos Estados Unidos em preparação à COP 15, a Conferência Sobre Mudanças Climáticas da ONU, na Dinamarca. quot;O Chico Mendes não só fez os empates, que foi uma forma de resistência, mas foi muito além disso. Ele conseguiu reunir quem não se reunia", afirmou o governador mostrando em telão imagens dos empates realizados nos seringais do Acre nas décadas de 1970 e 80.

Chico Mendes é o ícone de uma luta que trouxe resultados que repercutem no mundo inteiro. Para Marques, mais que um ativista ambiental, Chico Mendes é o gerador de pensamentos e ações que são decisivos para a manutenção da floresta em pé ao mesmo tempo em que garantem a melhoria da qualidade de vida das populações tradicionais. "Chico tem papel fundamental. Não é apenas um mito, uma transformação que serve a um movimento, mas o autor intelectual desse processo de acreditar que o povo possa viver em boas condições na floresta", disse, observando que o aperfeiçoamento do legado de Chico Mendes resultam em experiências que são fundamentais para o mundo com  grande ênfase à Amazônia Brasileira e Internacional.

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Binho com demais governadores da Amazônia e governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger (Foto: David Alves/Agência Pará)

Florestania é reafirmada ao mundo

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Legado de Chico Mendes: mais qualidade de vida com floresta preservada no Acre (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O legado de Chico Mendes se traduz na elevação da qualidade de vida desfrutada no Acre de hoje em dia, processo que se iniciou com a decisão popular de eleger governantes completamente envolvidos com o desenvolvimento sustentável. O Acre, lembrou o governador durante a palestra em Washington, possuía uma vocação para outra proposta de desenvolvimento mais baseada na devastação dos recursos naturais. "O Acre tem uma situação diferenciada nesse aspecto", disse, fazendo referência a Estados como Roraima, Amapá ou Amazonas, os quais tem posição geográfica para preservação. No entanto, graças à mobilização popular, o Estado cada vez mais consegue melhores resultados mantendo a floresta em pé. "

Chico Mendes não só fez isso, mas construiu um pensamento que serve para toda a sociedade.  Ele não ficou em um grupo isolado, mas construiu uma possibilidade para que a sociedade elegesse um governo declaradamente condutora de um projeto sustentável.

Profundas transformações em um Acre cada vez mais sustentável

Profundas transformações vêm sendo implementadas no Acre nos últimos dez anos. Marques citou alguns exemplos, como a redução de 34 por grupo de 1000 habitantes para 17/1000 a taxa de mortalidade infantil, e o crescimento de R$2,7 mil para R$6,4 mil do PIB per capita. O governador mostrou projetos que estão fazendo do Acre o melhor lugar para se viver na Amazônia, como o advento da Biblioteca Pública, que conduz a experiência do programa Floresta Digital, que levará acesso gratuito à internet à toda cidade de Rio Branco até o final deste ano, e da Biblioteca da Floresta, base de um processo que está transformando a capital em uma cidade do conhecimento.

"Na base da Florestania está a educação", disse o governador, garantindo computador para todos os estudantes do último ano do ensino médio de escolas públicas. Em 2007 o Acre ficou fora da lista de municípios que contribuíram para a devastação da Amazônia, os campeões do desmatamento. Ao contrário disso, o Acre tem 88% de sua área preservada. "É uma alternativa econômica e também de te uma sociedade mais justa".

Os investimentos privados hoje são superiores aos da iniciativa pública em empresas dos parques industriais de Rio Branco. Há conceitos novos em desenvolvimento, como a parceria público-privada e comunitária aplicada ao complexo de avicultura de Brasiléia e à Natex – a fábrica de preservativos de Xapuri. Na última década, ocorreu expressiva queda da madeira ilegal, que deu lugar a madeira de valor agregado e com origem em planos de manejos e certificação florestal. "Nossa meta é muito ousada. Fizemos muito ao assegurar 88% de área preservada, 48% de terras protegidas", disse Marques.

O desafio da sustentabilidade convoca parceiros

Estradas, rodovias, grandes obras de infraestrutura, educação, saúde, fortalecimento da iniciativa e uma economia cada vez mais de base florestal foram expostos pelo governador acreano, que reafirmou aos governadores que a continuidade desse trabalho carece de um governo estabelecido. "Esses desafios precisam de um governo forte", disse, alertando que daqui por diante o Acre busca parceiros para atingir o objetivo de um projeto exemplar para o planeta. O pagamento por serviço ambiental visa fortalecer práticas produtivas sustentáveis. A sustentabilidade ambiental depende de sustentabilidade política e Binho diz ter certeza de que o próximo governador terá esse atributo, assim como vem sendo na última década.

"Nesse sentido, precisamos de ajuda. Não vamos fazer isso sozinhos porque o Acre vive o momento de esperar o novo momento, o momento da economia sustentável e enquanto isso estamos queimando nossa própria gordura. E nós já queimamos muita gordura. Por isso que estamos apostando, investindo muito para Copenhage aprovar mecanismos para que possamos ter sustentabilidade desse nosso projeto", afirmou.

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