São 300 mulheres, líderes de suas comunidades, desenvolvendo trabalho de acompanhamento de 3,6 mil famílias em três municípios
Mulheres comuns, líderes em suas comunidades, saem de casas e da rotinas para promover ações de combate à violência e promoção da paz. São as Mulheres da Paz, selecionadas pelo Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) em janeiro deste ano para atuarem em projeto desenvolvido pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) em parceria com o Governo do Estado. As 300 mulheres estão responsável até o fim de 2010, prazo em que termina o projeto, pelo acompanhamento social de 12 famílias cada uma. Isto representa um universo de 3,6 mil famílias em três municípios que estarão sendo monitoradas para identificar demandas que necessitam de intervenção.
Em Rio Branco, 150 mulheres estão em campo nas Zonas de Atendimento Prioritário (ZAPs) 2, 4 e 5 que atendem as comunidades e entorno dos bairros Conquista, Sobral e Santa Inês, respectivamente. As outras 150 estão divididas nos municípios de Cruzeiro do Sul e Brasileia e são acompanhadas por técnicos que dão orientação contínua sobre os procedimentos. Depois de cursos de capacitação aplicados pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre (CDDHEP), que iniciaram em março, elas já realizaram o mapeamento coletivo junto com os moradores para apontar as famílias que serão atendidas e algumas já trazem o resultado desta aproximação.
A Mulher da Paz Pedrina Araújo mora no bairro Conquista e está completamente envolvida no trabalho. Ela já encaminhou duas pessoas para atendimento nas áreas de saúde e de assistência social. "Eu já tinha trabalhando assim, com assistência à comunidade, mas não podia fazer nada. Agora tenho o suporte de toda essa rede. Encaminho pro CRAS, para unidades de saúde. Visitando as comunidades é que vemos os problemas sociais que as famílias enfrentam", observa.
As mulheres que participam do programa trabalham 12 horas por semana e recebem bolsa no valor de R$ 190. A atividade pode ser realizada em horário escolhido pelas mulheres e não atrapalha as atividades que estas já desenvolvem. Identificadas as necessidades dos indivíduos atendidos pelo programa, eles são encaminhados para o recebimento de benefícios e participação em atividades educacionais, culturais, esportivas e de saúde.
Uma nova vida
Telma Abramoski chegou ao Mulheres da Paz após receber insistentes pedidos de amigas para que ela se inscrevesse. Líder natural entre moradores do bairro Santa Inês ela conta que se envolvia com os problemas da comunidade, procurava ajudar, mas não sabia ouvir. Queria falar também. As técnicas de aproximação, acolhimento e aconselhamento foram aprendidas nos cursos de capacitação pelos quais passou. "Agora estou preparada. Antes as pessoas me procuravam e eu dava conselhos mas não ouvia. Agora que passei pela capacitação estou mais tranquila", revela a dona de casa.
Ao chegar para a entrevista vestida com camiseta do programa e crachá de identificação, Telma descobre que a família não tem renda fixa. Cleidenecir e o marido têm três filhos, o menor com 5 meses de idade, e moram em uma casa cedida. As únicas rendas vêm de um pequeno lava jato instalado na frente da casa e do benefício Bolsa Família. "Nossa renda não chega nem a um salário mínimo. Vim da colônia, não sei fazer nada que possa me dar dinheiro em casa. Acho que esse acompanhamento vai ajudar", avalia Cleidenecir.
Essa é a inteção do programa. Alcançar pessoas que naturalmente estariam de fora de ações criadas para diminuir o risco social. "Nós entendemos que a promoção da paz se faz de diversas formas. Com melhor qualidade de urbanização, acesso a direitos fundamentais básicos, profissionalização de jovens e pessoas que estão fora do mercado porque não têm qualificação", explica a gerente local do programa Eva Freire. O programa Mulheres da Paz também conta com ações do Instituto Dom Moacyr e da Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (Semcas).