Grande parte das pessoas que vivem na Amazônia tem sentimento de revolta ao se deparar com a cena de um caminhão carregado de toras de madeira.
Provavelmente irão imaginar que aquele volume representa a destruição da floresta. Com o aumento do mercado ilegal e a vulnerabilidade no sistema de fiscalização desse tipo de comércio, é possível encontrar carregamentos ilícitos, mas o que quase ninguém se pergunta é: essa madeira é fruto de uma atividade de manejo sustentável?
Talvez a dúvida não paire, justamente, pela falta de conhecimento amplo sobre o assunto.
No Acre, os primeiros estudos foram realizados em 1988, na Floresta Estadual do Antimary. Nessa época chegava ao estado o engenheiro florestal, mestre em Ciências em Florestas Tropicais do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e atualmente coordenador do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (Ufac), campus Rio Branco, Marco Antônio Amaro. Ele participou dessa primeira experiência pela Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac).
“Temos uma floresta rica e precisamos desse recurso. Hoje podemos dizer que conhecemos o Antimary, mas temos muitas áreas com potencial, por isso precisamos levar estudos para outros lugares. Trata-se de uma decisão de como fazer isso”, explica.
O engenheiro vai além e garante que os impactos na floresta existem mesmo que não haja interferência humana. “A floresta só se mantém com essa exuberância porque tem a mesma dinâmica do ser vivo: nasce, cresce e morre, ou seja, sofre alterações naturalmente. Nós precisamos do recurso e com o manejo temos a chance de usá-lo de maneira racional, com menor impacto”, disse.
Amaro explica que no Acre existem casos de sucesso da aplicação do manejo. “Você não vai ter a mesma floresta, o que a gente tem que garantir é a existência das mesmas espécies. Aqui já temos experiências de ver que a floresta se regenerou, em termos de espécie.
No Antimary, Seringal Cachoeira e a Fazenda Canaã tem lugar que você entra e não percebe que houve exploração, pois a floresta se recuperou”, esclarece.
Avanços científicos
Em 2007, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Acre, desenvolveu o Modelo Digital de Exploração Florestal (Modeflora), uma inovação tecnológica pela qual é possível planejar, executar e monitorar as atividades de manejo florestal com alta precisão.
“O Modeflora considera a realidade de campo, entre relevo, rede de drenagem, hidrografia, localização e volume das árvores”, explica o analista da Embrapa, Daniel Papa.
Testado em aproximadamente 12 mil hectares de floresta, o Modeflora reduz os custos de elaboração e execução de planos de manejo florestal em pelo menos 30%. Além de ser economicamente viável, o modelo torna o planejamento florestal muito mais integrado ao ecossistema, priorizando a redução de impactos ambientais e a segurança no trabalho.
Atualmente todos os planos de manejo comunitários fomentados pelo governo do Estado são aplicados por meio do Modeflora, garantindo 100% de eficácia.
Além desse modelo, a Embrapa já testa novas tecnologias, ainda mais avançadas. O Lidar, por exemplo, é um sistema aerotransportado que emite pulsos a laser, acoplado a um GPS, e permite a construção de modelos digitais do terreno de áreas florestais.
O pesquisador Marcus Venicio D’Oliveira explica que o Lidar gera uma imagem tridimensional representando a floresta que poderá ser manejada. “Ele emite pulsos de laser, numa frequência muito alta, e quando isso é emitido o sensor recebe o retorno desse pulso, ou seja, ele mede o tempo dessa viagem que vai até a superfície e volta. Um computador transforma isso numa coordenada tipo ‘xyz’, sendo assim tem-se uma posição no terreno com uma altura. Como a frequência é muito alta, às vezes até um milhão de pulsos por segundo, isso vai desenhando uma nuvem de pontos que é o modelo do terreno”, disse.
De acordo com o pesquisador, os modelos utilizados hoje, por exemplo, são derivados do ônibus espacial, que gera uma informação a cada 3.600 metros quadrados. Com o Lidar são gerados um ou dois pontos por metro quadrado. Ele conta que a tecnologia já foi testada algumas vezes em áreas de floresta do Acre.
“Em 2015 fizemos oito voos – a Reserva Extrativista Chico Mendes, em florestas estaduais e em uma reserva indígena. Esses dados serão utilizados para melhorar as estimativas de estoque de carbono do estado e no manejo florestal”, declarou.
Há um ano, a Secretaria de Desenvolvimento Florestal, Indústria, Comércio e Serviços Sustentáveis (Sedens), transferiu a política florestal do estado para a Secretaria de Meio Ambiente (Sema).
Com a transição a gestão das florestas públicas passa a ser realizada pela Sema. O Manejo florestal madeireiro é uma das atividades prioritárias para incrementar a renda das famílias que habitam as quatro florestas públicas: do Antimary, Mogno, Liberdade e Gregório.
“Desde que assumimos a política florestal do estado, estamos trabalhando para garantir as condições necessárias para realização dessa atividade, como forma de garantir que as comunidades possam acrescentar mais esse produto, tão valioso, que é a madeira a sua renda familiar”, explicou o secretário de Estado de Meio Ambiente, Edegard de Deus.