“Em uma das viagens, vim em um trator de Sena Madureira conduzindo um comboio de oito caminhões carregados. Depois de sete dias dentro da lama, chegamos só o trator e um caminhão, já sem carregamento. Tivemos que deixar a mercadoria na estrada, junto com os outros caminhões, por causa dos atoleiros”, relata Dedimar Lopes.
Durante muitos anos de sua vida, Lopes foi motorista em Cruzeiro do Sul. Trabalhou para grandes fazendas e grupos comerciais, realizando o transporte de mercadorias de Rio Branco. Ao explicar o quão importante é a rodovia BR-364 para quem vive na região do Juruá, ele é incisivo: “Mudou a vida dos cruzeirenses não foi 100% não, foi 1.000%. Sem essa rodovia, Cruzeiro do Sul seria uma cidade na lama, completamente isolada”.
Antes funcionário levando mercadorias da capital, a um alto preço, Lopes faz agora o caminho inverso. Dono de uma exuberante produção de cocos, vende o fruto de seu trabalho e dedicação para a capital. As mudas, ele recebeu do governo do Estado em 2011, e com a BR-364 totalmente trafegável, agora o mercado está aberto. Já são frequentes os caminhões na porta de sua colônia buscando os cocos.
Há cinco anos, o Acre vive uma nova realidade entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. O Juruá, região que por mais de cem anos viveu isolada por via terrestre, ganhou perspectivas econômicas e sociais: a dependência de mercado das balsas que carregavam produtos chegou ao fim, e até mesmo a viagem para outras cidades pode ser feita de ônibus, a um custo muito mais acessível para diversas famílias.
Atualmente, a rodovia passa por ações emergenciais, para manter a trafegabilidade. A etapa começou em 2015, quando o governador Tião Viana conseguiu a liberação de R$ 80 milhões, do governo federal, para a execução das obras. Desde o fim de 2013, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) é responsável pela manutenção da estrada, construída pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Acre (Deracre).
O roteiro dessa obra de grande magnitude, com uma logística e organização de desafio quase do tamanho da Amazônia, começou a ser alinhavado no início da gestão do grupo político Frente Popular, no governo estadual de Jorge Viana, a partir de 1999. Seguiu em plena execução nos governos de Binho Marques e Tião Viana, até que ficasse totalmente aberta de 2011 até os dias de hoje, pela primeira vez em sua história.
Das viagens impossíveis ao mercado aberto
Tarauacá, outra cidade ao longo da BR-364, também colhe avanços promovidos pela abertura da rodovia. Outro exemplo de agricultura acreana que alcança novos mercados, parte da produção de banana do município está sendo vendida em Rio Branco, indo até para outros estados.
Tão cético quanto aqueles que insistem em dizer que o Acre não produz, Sebastião de Freitas, afirmava nunca querer um pedaço de terra na margem da BR-364, pois pensava que a estrada não seria concluída. “Quando comprei esta terra aqui, tinha a maior raiva de colônia, ainda mais na beira da estrada. Eu pensava: ‘Essa estrada não vai sair é nunca’. Nesse tempo, eu dormia na estrada quando vinha para minha terra. Não tinha como chegar aqui no mesmo dia”, conta Freitas, ao lembrar como era o trajeto de pouco mais de 30 quilômetros até sua terra, a Colônia Pau Grande.
No dia em que concedeu entrevista à equipe da Agência Notícias do Acre, Freitas estava embarcando 600 cachos de banana-comprida, a R$ 7 cada, para Porto Velho (RO). O caminhão que faz o frete das bananas, parado na beira da estrada pavimentada e com totais condições de tráfego, a mais de 900 quilômetros de seu destino em outro estado, é a imagem da força econômica e social que percorre todo o processo de construção.
“Agora, com a estrada, melhorou muito, foi um sonho realizado. Hoje tem asfalto, luz, com o programa Luz Para Todos [do governo federal], e pela BR mando minha banana para Tarauacá, Rio Branco, Porto Velho e até para Manaus [Amazonas]. O tanto que eu produzir vou vendendo”, relata.
Etapa atual
O trecho em que está localizada sua colônia, entre a zona urbana de Tarauacá e o Rio Gregório, é um dos que passou pela ação emergencial iniciada em 2015. Hoje, boa parte da rodovia já conta com pavimento revitalizado e com a aplicação de pedra-rachão, garantindo durabilidade para a obra. A utilização de pedra só foi possível depois de a rodovia estar completa, pois garantiu uma logística viável para o projeto.
O próximo passo é a revitalização completa da estrada, entre Sena Madureira e o Rio Liberdade, em Cruzeiro do Sul. Para isso, o Dnit já está com o projeto concluído e aprovado, inclusive com audiências públicas realizadas. Em maio deste ano, o governador Tião Viana garantiu com o governo federal a liberação de R$ 230 milhões, pela União, por meio do Programa de Contratação, Restauração e Manutenção por Resultados (Crema), do Dnit.
“Existe um esforço enorme das equipes que estão trabalhando na ação emergencial com aqueles R$ 80 milhões que conseguimos aprovar ano passado. E agora, esses R$ 230 milhões precisam entrar em execução para deixar a BR-364 segura e bem mais estruturada do que já foi”, explica o governador.
Tião acrescenta que a direção-geral do Dnit tem o compromisso de levar adiante a execução dessa obra, mas admite que a licitação está demorando. “Acredito que todos os órgãos de controle e fiscalização estão acompanhando esse momento de abertura de licitação para o bem da BR-364, que é a grande causa de união entre as diferentes gerações do povo do Acre”, conclui.