O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa começou a vigorar este ano. As principais alterações se referem a acentuação e hifenização. Mas, ao contrário do que muitos têm afirmado no Acre, o acordo não modificou a grafia do gentílico “acreano” para “acriano”.
A composição do adjetivo remonta a uma normatização anterior, que o acordo apenas manteve. Segundo essa regra, do substantivo próprio “Iraque”, por exemplo, retira-se a vogal final e acrescenta-se o sufixo “iano”: “iraquiano”. Ou de “Jordânia”: “jordaniano”. Daí: “acriano”.
Ocorre que o povo do Acre, não é difícil constatar, rejeita a norma-padrão e deseja legitimar o seu tradicionalíssimo “acreano”. Quer fazer valer seu hábito. No que está no seu direito. Afinal, por que a regra deveria se sobrepor ao costume, se ele não está ferindo a dignidade de ninguém?
O Direito nos ensina que a norma serve para proteger um valor. Ora, o maior valor em jogo nessa situação é a cultura local. Que deve ser defendida e promovida, pois representa a identidade do povo, seu modo de viver, sua tão original história de resistência e, por conseguinte, sua autoestima e soberania.
Buscando resolver o impasse referenciado pelo desejo da população, o governo do Estado já prepara uma consulta pública online. Se o termo “acreano” for ratificado como preferido, o próximo passo será tomar as medidas legais cabíveis para oficializá-lo.
Mas, em meio à polêmica, vale a pena registrar as reações mais criativas dos cidadãos, que ilustram o bom humor do povo “do pé rachado”. Como essa fina flor da indignação, colhida em rede social: “É melhor devolver o Acre pra Bolívia do que escrever ‘acreano’ com ‘i’”.
Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e revisora da Agência de Notícias do Acre