Os servidores do Instituto de Terras do Acre (Iteracre) já estão acostumados com muitas situações difíceis. A atuação da instituição foi fundamental para a regularização fundiária da região por onde passa a rodovia BR-364. Nessa missão, enfrentaram adversidades que fariam muitos desistir nos primeiros obstáculos. Entretanto, esses homens e mulheres enfrentam agora a cheia do Rio Acre, provavelmente a maior de sua história, e vivenciam momentos para os quais não estavam preparados. “Estamos vendo o desespero e o sofrimento das pessoas que são obrigados a deixar suas casas, muitas vezes perdendo tudo que levaram uma vida inteira para conseguir”, disse o diretor-presidente do Iteracre, Glenilson Araújo Figueiredo.
A instituição está ajudando na retirada dos desabrigados com um total de 24 funcionários, seis caminhonetes e dois barcos. Os funcionários se revezam em turnos e não se intimidam com os perigos que lhes reserva o desconhecido, mas se veem impotentes diante da força implacável das águas que avança expulsando todos que ocupam seu espaço, seja pobre, seja rico. “Quando a água chega, todos têm que sair. É nessa hora que a gente ajuda, pois a maioria precisa de um transporte para levar sua família e seus bens para lugares seguros. Os que podem, vão para a casa de familiares, os que não, vão para os abrigos públicos”, conta Glenilson. “Nos abrigos, essas pessoas são recebidas com o carinho e respeito necessário para que seus sofrimentos possam ser minorados”, completa.
Elcimar Souza de Oriá, da Divisão de Obtenção e Arrecadação de Terras do Iteracre, se emociona ao falar de algumas das situações que já viveu até agora. Ele relata que em uma das missões foi constatado que uma criança de quatro anos se encontrava sozinha dentro de uma casa no bairro Ayrton Senna. “A casa já estava ilhada e a criança estava apavorada”, relembra Elcimar. “Procuramos por algum responsável próximo, mas não encontramos ninguém. Informamos o Corpo de Bombeiros que acionou o pessoal da assistência social. A criança foi recolhida e encaminhada a um abrigo”, relatou. “Algum tempo depois, descobrimos que a mãe da criança havia falecido há alguns dias e que o pai estava na rua vendendo picolés”, completou.
O relato de Alcimar não é o único. Raimundo Moreira do Nascimento, que é motorista do Iteracre, também se emociona ao lembrar o caso da mãe que perdeu todos os seus bens porque estava cuidando do velório da filha de dois anos que havia morrido no dia anterior. “Ela teve que se ausentar por algum tempo para cuidar do velório da filha. Quando voltou, a água tinha invadido sua casa e não deu para salvar nada. Como se não bastasse a dor de ter perdido um membro da família, veio a água e lhe tirou também os bens materiais”, contou.
Glenilson, Alcimar e Raimundo são apenas alguns entre tantos outros homens e mulheres do Iteracre e de muitas outras secretarias do Estado ou do município, autarquias ou fundações, empresas privadas ou simplesmente voluntários que também sentem surgir um nó na garganta a cada nova família retirada do alagamento. O trabalho que realizam tem sido fundamental nesse momento em que o Acre inteiro sofre com os alagamentos. Sem eles, os danos materiais já seriam bem maiores.