No início dos anos 80, o então deputado federal Wildy Viana, um acreano determinado a vencer na vida, que aprendera a consertar rádios com um curso por correspondência enquanto a mulher costurava para fora e os filhos eram incentivados a estudar, decidiu que o Acre teria que ser um grande produtor de peixes. Ele não entendia por que um Estado em meio à Amazônia, com clima e solo adequados à piscicultura, não explorava esse potencial.
Wildy embarcou em um avião Bandeirantes no interior de São Paulo carregando alevinos dentro de sacos plásticos com destino ao Acre. A semente foi plantada ali. Anos depois, seu filho Tião Viana, governador do Acre, inaugura, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira etapa do Complexo Industrial do Peixe, um investimento de mais de R$ 50 milhões que envolverá pelo menos 16 mil famílias de pequenos produtores familiares.
“Se filho de peixe, peixinho é, o Tião, filho do meu pai, seu Wildy, é um exemplo disso. Ele está levando adiante o sonho do papai. E nós também somos filhos do Lula na política, com quem aprendemos muito. Hoje o Acre recebe um presente do governo, que é esse complexo que vai manejar água para produzir peixe. E temos orgulho de ter o ex-presidente Lula aqui, pois quando ele ainda não era nada, mas tinha tudo dentro dele, todos os sonhos de um mundo melhor, ele já vinha ao nosso Estado. É graças ao Lula que hoje o Brasil é um país de todos, que deixou de olhar apenas para o Sul e Sudeste”, disse o vice-presidente do Senado, senador Jorge Viana.
O governador Tião Viana reafirmou o desafio de consolidar uma classe média rural no Acre e deu exemplos de que isso é possível. Citou um produtor de Brasileia, que com a produção de peixes em cinco hectares de água tem uma renda de R$ 75 mil por ano, além das outras atividades, como a criação de galinhas e roçados. “O melhor projeto de piscicultura do Brasil está diante de nós, e isso me orgulha muito. O que está por trás de tudo isso é o fim da fome no Acre. Em dezembro o complexo estará em 100% de funcionamento e um novo Acre vem por aí, com distribuição de renda, com menos desigualdades, com mais justiça. Falta muito a fazer, mas o trabalho vence tudo”, comentou.
{xtypo_quote_right}Eu não só gosto de política, como acho que o povo tem que fazer política cada vez mais para melhorar nosso país e nossos Estados. Você pode até não gostar dos partidos políticos, mas tem que fazer política. E quem critica tem que virar político para fazer diferente.
Ex-presidente Lula{/xtypo_quote_right}
Geraldo Bernardino, hoje secretário executivo da Pesca no Amazonas, foi homenageado ao lado de Wildy Viana e Júlio Rezende, responsáveis por fazer as primeiras reproduções de peixe no Acre. “Eu vim ao Acre há trinta anos. Os alevinos chegaram de avião. e dois anos e meio depois fizemos a primeira reprodução. Hoje tem toda essa tecnologia disponível. Na época não tinha, mas foi lindo. Hoje as fábricas de ração são organizadas. Na hora de comprar, o produtor pergunta: quanto é? Os frigoríficos também são grandes empresas. Na hora de vender o peixe, o produtor pergunta: quanto paga? E nesse arranjo muda tudo, porque o produtor passa a ser o grande protagonista de tudo. Ele [produtor] é sócio da empresa, e isso é um orgulho”, observa.
Lula se entusiasmou com o projeto, que classificou de “extraordinário” por envolver o Estado, grandes empresários e produtores artesanais em cooperativas. “É um projeto moderno porque vai desde a produção de ração, a produção de alevinos e a venda do filé de peixe. Penso que, a partir do exemplo do Acre, a gente pode perceber que em muitos lugares que têm muitos trabalhadores rurais, com água perto, podem ser incentivados projetos como esse, para fazer com que as pessoas adquiram mais poder aquisitivo e para que o brasileiro possa comer mais peixe. Temos 12% da água doce do mundo e produzimos poucos peixes”, disse.
O ex-presidente Lula comentou que volta para São Paulo orgulhoso e disposto a ser “garoto propaganda do Estado”. “Aqui também tem a proximidade com o Pacífico, que está a 1,2 mil quilômetros de Assis Brasil. O que se produz aqui pode ser facilmente vendido para o Japão, China, Coreia, e quem mais quiser comer filé de pirarucu. Quem quiser vender para a Ásia terá que vir para cá”, declarou.
O senador Aníbal Diniz agradeceu ao ex-presidente Lula por todo apoio que dispensou ao Acre, pelo carinho que tem pelo povo acreano e por ter incentivado “este projeto tão importante que é a atividade da piscicultura, geradora de renda e de melhoria de vida para a nossa população”.
Produtores receberam 25% das ações da Peixes da Amazônia S/A
O Complexo é uma área de 60 hectares localizado no quilômetro 35 da BR-364, sentido Rio Branco/Porto Velho. O espaço abriga, além do centro de reprodução de alevinos inaugurado nesta sexta-feira, 23, a mais moderna fábrica de ração do Brasil – com tecnologia importada da Dinamarca – e um frigorífico capaz de processar à altura todo o peixe produzido. Ambos ainda estão em construção. Mas o grande diferencial da planta industrial talvez não seja o aparato tecnológico utilizado, mas o arranjo encontrado para a composição do quadro societário da empresa Peixes da Amazônia S/A, que administra o empreendimento.
{xtypo_quote_left}O melhor projeto de piscicultura do Brasil está diante de nós, e isso me orgulha muito. O que está por trás de tudo isso é o fim da fome no Estado. Um novo Acre vem por aí. Falta muito a fazer, mas o trabalho vence tudo
Governador Tião Viana{/xtypo_quote_left}
Para viabilizar o negócio, governo e iniciativa privada precisaram investir na ideia. Para agregar os pequenos produtores – agora organizados em cooperativas -, o governador Tião Viana determinou que 25% das ações que caberiam ao governo seriam entregues aos piscicultores. Mais que uma relação entre produtor/fornecedor/comprador, os produtores são sócios do negócio. E como promessa é dívida, os produtores receberam formalmente as cotas acionárias da empresa, agora com o respaldo da aprovação da Assembleia Legislativa, durante a solenidade de inauguração.
“O dia de hoje tem uma palavra, e ela se chama gratidão. O governador Tião Viana colocou em seu governo um projeto no qual a comunidade pode fazer junto, e hoje temos aqui mais de dois mil produtores rurais. Devemos muito ao Lula. Foi ele quem nos apresentou o consultor Jaime Brum, maior conhecedor em reprodução de peixes em cativeiro no Brasil. Que o Acre possa ser agora o endereço do peixe na Amazônia”, disse o secretário de Produção, Lourival Marques.
O secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, explica que o desafio assumido pelo governador Tião Viana era um arranjo que pudesse fazer com que o Estado se tornasse competitivo na atividade. “Fomos buscar orientação com quem mais conhecia de reprodução de espécies amazônicas do Brasil, que é o Jaime Brum. Resolvemos a tecnologia comprando o maquinário na Dinamarca. O segundo desafio era incluir o produtor familiar, para que ele não fosse apenas um engordador de peixe, que comprasse a ração da fábrica e vendesse o peixe para o frigorífico. Hoje todos os produtores vão receber a certificação de que são donos de 25% de todo o complexo industrial. Aqui não é só um negócio competitivo, mas inclusivo”, observou.
O produtor João Freire de Albuquerque, da Associação Barcia, em Assis Brasil, reconhece que o incentivo dado pelo governo do Estado tem melhorado a cadeia produtiva do peixe. “Eu acredito que será uma grande oportunidade para o produtor de peixe. Hoje nossa principal dificuldade é o preço da ração, que gera muitos gastos. Eu já trabalhava com peixe, mas a atividade, com o incentivo, está evoluindo. Antes eu produzia muito pouco, hoje tenho a oportunidade de criar mais de seis mil alevinos, e minha intenção para 2014 é ter uma produção superior a 10 mil. Somente quem não se dedica ao ramo pode considerar que isso não é importante, mas para nós, produtores, que queremos trabalho, é um excelente incentivo”, disse.
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O que eles disseram
Aníbal Diniz, senador – “Estou aqui para dizer muito obrigado por tudo que o Lula nos ensinou. Se hoje nós temos o governo que temos, e todo o trabalho que já foi construído, é porque tivemos o carinho e a atenção do presidente Lula, que nunca faltou ao Estado do Acre.”
Sebastião Aquino, extrativista – “Para a gente ter conquistas como esta, muitas coisas nos antecederam e envolveram todo o movimento social, como a morte do Chico Mendes, o apoio do Lula e de tantos outros companheiros que nos ajudaram a levar essa luta para fora do Estado e do Brasil. Até 1998, havia uma grande dificuldade em estudar. Hoje eu sou formado em pedagogia. Antes banco tinha financiamento só para os grandes. Hoje ele beneficia os pequenos.”
João Albuquerque, Federação das Indústrias do Acre – “Para realizar grandes conquistas, não basta agir, tem que sonhar primeiro, tem que planejar, e agora estamos vivendo a realização de um sonho. Há uma década não imaginávamos que estaríamos aqui hoje.”
Perpétua Almeida, deputada federal – “A política tem seus altos e baixos. O povo foi para a rua porque queria mais, e este aqui é o exemplo de que nós podemos fazer mais pelo desenvolvimento do Acre e pela geração de emprego do jeito que o povo quer.”
Sibá Machado, deputado federal – “Toda minha gratidão a este projeto e a todo o apoio que ele recebeu se resume na presença dos comunitários, que o governo sempre fez questão de garantir. Eles fazem parte deste empreendimento. Não estão esquecidos e não serão explorados nesta relação, pois são sócios do negócio.”
Elson Santiago, presidente da Assembleia Legislativa – “Nós estamos sempre aprovando os projetos importantes para o Acre, e essa matéria passou por lá, foi votada e aprovada porque entendemos a importância de ela para mudar a economia do nosso Estado.”
Marcus Alexandre, prefeito de Rio Branco – “Eu falo em nome dos 22 prefeitos para dizer muito obrigada ao presidente que mais ajudou os municípios do Acre, o mais municipalista dos presidentes. Seu apoio foi fundamental para a construção da BR-364, e hoje os produtores que estão aqui vieram de carro e não precisaram descer do veiculo para atravessar balsa nenhuma porque vencemos as cinco grandes pontes desta estrada.”
César Messias, vice-governador – “Nós tivemos diversos presidentes que tinham olhar direcionado para o Sul e o Sudeste. Quando o Lula chegou ao poder, conseguiu olhar para todos os Estados brasileiros, mas teve um olhar muito especial para o Acre, e nós somos muito orgulhosos por este carinho.”{/xtypo_quote}
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