O espaço das mulheres na sociedade foi conquistado por meio de lutas, empenho e muita determinação para provar que elas não são o sexo frágil, mas sim o sexo capaz. E, embora décadas tenham se passado entre a fogueira de sutiãs na França e a conquista do primeiro voto feminino, ainda hoje milhares de mulheres precisam provar ao mundo de que são capazes de ir além do que um dia acreditaram que iriam.
Cinco mulheres de Feijó, no interior do Acre, também passaram por muitas provações até chegarem à realização de seus sonhos, e é a história de cada uma delas que o leitor vai conhecer nos próximos parágrafos.
São mulheres que aprenderam ou se aprimoraram na arte de pintar e costurar um presente e um futuro melhores para si e os familiares. São mães, esposas, mas acima de tudo guerreiras, que, independentemente das dificuldades, mostram, às vezes por meio de lágrimas nos olhos, que sempre é possível vencer por meio do trabalho e do apoio que receberam da Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN), que transformou donas de casa desempregadas em empreendedoras.
Costurando um futuro digno
A primeira personagem desta reportagem é Maria Ivânia da Costa Nascimento. Mãe de dois garotos, esposa, dona de casa e costureira “com muito orgulho”, Ivânia da Costa tem um sorriso contagiante, mas nem sempre a vida dessa trabalhadora foi marcada por sorrisos. Muitas vezes, segundo ela, as dificuldades que enfrentou no passado a fizeram chorar.
Antes de conhecer a equipe da SEPN, Maria Ivânia trabalhou como empregada doméstica, mas teve que deixar o emprego porque o esposo sofreu um acidente e precisou ficar hospitalizado por vários dias. Depois, ela passou a trabalhar como manicura, mas a renda era incerta a cada fim de mês.
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“Antes de ser costureira eu ganhava menos de 700 reais por mês. Isso porque eu contava com o Bolsa Família para fazer a feira e faturava uns 300 reais por mês fazendo unha. Eu guardava o que podia porque que pago todas as despesas. Meu marido ficou sem trabalhar desde o acidente que sofrera”, explica a costureira.
Maria Ivânia recorda que a cada vez que conta a alguém as dificuldades que enfrentou ela chora. Ela diz que não tinha oportunidades no mercado de trabalho por falta de cursos que a qualificassem para as vagas de emprego que surgiam na cidade onde mora.
“Eu já passei uma vida muito difícil, mas graças a Deus estou bem. Hoje eu choro de felicidade. A vida é muito difícil quando você não está empregada, mas quando você passa a ter seu dinheiro é muito bom. Se eu lembrar dez vezes num dia o que eu passei, eu choro dez vezes. Foi muito difícil sustentar minha família ganhando pouco. Meu marido precisou ir para Rio Branco se tratar e eu fiquei sozinha com os filhos. Eu via meus filhos chorando com fome e chorava junto com eles”, relembra a costureira com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Ivânia diz que, sem ter nada para dar de comer aos dois filhos, saía de casa para pescar num igarapé próximo de casa, mas nem sempre conseguia o que comer para os filhos. “Quando eu pegava um peixe eu chorava tanto agradecendo a Deus… Aí, eu dava o caldinho para eles sem farinha, porque nem isso eu tinha”, lembra.
Embora tivesse uma máquina de costura em casa, não conseguia clientes porque as pessoas não gostavam da qualidade das roupas que ela costurava porque a máquina era de pequeno porte e não possibilitava fazer bons acabamentos às costuras.
O retalho que “alinhavou” os rumos da vida de Ivânia
A vida de Maria Ivânia mudou quando ela soube que a Secretaria de Pequenos Negócios estava oferecendo cursos de corte e costura na sede da Associação das Mulheres de Feijó. E a secretaria assegurava que “àquelas que concluíssem o curso ganhariam máquinas novas para trabalhar”.
Foi então que a costureira recebeu a oportunidade que tanto esperava. “Sabe aquela porta que estava fechada e ela vai se abrindo? Foi desse jeito para mim, graças a Deus. Hoje eu tenho um bocado de cliente. Ainda não são muitas, mas para mim já é importante. Hoje eu trabalho e meus filhos têm o que comer, têm uma boa dormida. Antes eles não tinham, e não era porque eu não trabalhava, era porque eu não tinha oportunidade, eu não tinha o saber. Voltei a estudar, fiz cursos de corte e costura oferecidos pela Secretaria de Pequenos Negócios”, conta.
A primeira confecção vendida por Maria Ivânia após iniciar o curso de corte e costura levado a Feijó pela Secretaria de Pequenos Negócios foi um “terninho”, de acordo com ela. “Eu fiz uma blusa para uma moça, e com o tecido que sobrou eu fiz o terninho. Eu tinha acabado de sair da aula de empreendedorismo que havia no curso. Eu fiz o terninho quando cheguei em casa e vendi lá mesmo, no curso. Desse terninho eu peguei o dinheiro que ganhei com ele e comprei tecidos para fazer as calcinhas para criança”, relembra.
E foi entre um retalho e outro que a dona de casa que fazia “bicos” como manicura começou a atuar definitivamente no ofício de costureira. “Depois que eu fiz as calcinhas e ganhei um dinheiro como manicura, cheguei ao fim do mês com 800 reais. Aí eu fui lá em Rio Branco e comprei uns tecidos, linha, fio, elástico…”, afirma.
O curso e a oportunidade que Maria Ivânia recebera por meio da Secretaria de Pequenos Negócios são uma chance que ela deseja que chegue a outras mulheres. “Estou feliz com esse projeto e espero que ele continue, não pare por aqui. Do jeito que me ajudou, quero que ajude muito mais pessoas que talvez precisem muito mais do que eu. Na época que recebi a ajuda eu precisava, mas hoje não preciso mais porque eu estou bem melhor, graças a Deus. Primeiramente eu tenho que agradecer a Deus, segundo ao Tião Viana e à Secretaria de Pequenos Negócios, na pessoa do secretário [José] Reis, do Rômulo [Brando] e da Jaciara [Rodrigues].”
Da costura para as cores e a beleza
Nossas próximas mulheres empreendedoras que mudaram de vida são duas cabeleireiras que se conheceram durante o curso oferecido pela SEPN – Mirla Nascimento e Sandra Maria Brito. Há um ano a realidade de Mirla Nascimento era outra. Naquela época ela fazia parte de uma estatística negativa: a de brasileiros desempregados. “Eu não tinha renda, só meu marido trabalhava e é muito difícil a gente não ter renda e ter que ficar pedindo as coisas ao esposo”, comenta.
Enquanto isso, Sandra Brito trabalhava, mas era ajudando o esposo, e o valor que recebia mensalmente para auxiliar o marido era defino por ele, variando a cada mês.
Mas um dia ambas souberam que a SEPN estava disponibilizando um curso de cabeleireira para mulheres feijoenses. Elas se inscreveram para participar no curso profissionalizante, que incluía, além das aulas de cabeleireiro, um curso de empreendedorismo, e assim a história delas se cruzou e a partir de então a vida dessas duas mulheres tomou um novo rumo.
Do desemprego ao empreendedorismo
Depois que fizeram o curso de cabeleireiro, Mirla e Sandra decidiram montar um salão na sede da Associação de Mulheres. Esse foi o passo seguinte que garantiu a mudança na vida das cabeleireiras. Quando encerram o curso oferecido pela SEPN, cada participante recebeu um kit salão de beleza, contendo secador de cabelo, chapinha, lavatório e outros produtos. Com os produtos em mãos e a vontade de mudar de vida, Mirla e Sandra juntaram-se e aproveitaram a estrutura existente na Associação de Mulheres, local onde fizeram o curso, e abriram o próprio salão.
“Minha vida é muito melhor do que antigamente. É muito difícil a gente não ter renda e ter que ficar pedindo tudo ao marido. Hoje eu não faço mais isso porque tenho minha própria renda. Hoje eu levo para casa um valor, por mês, de 1.500 reais, às vezes até mais. É muito gratificante. Eu quero crescer mais, a cada dia, conquistando mais clientes para poder crescer mais e mais”, afirma Mirla.
De acordo com Sandra, a entrada no mercado de trabalho como dona do próprio negócio também mudou os rumos da vida dela. “Eu não tinha renda, apenas ajudava meu esposo no mercado. Agora eu tenho uma renda, tenho meu trabalho. Todo mês eu tenho meu dinheiro. Ajuda bastante.”
Mirla Nascimento e Sandra Brito garantem que têm imensa gratidão às pessoas do governo do Estado que estão trabalhando para que o projeto da Secretaria de Pequenos Negócios dê certo e que seja levado para as pessoas que mais precisam.
“A gente pede que venham mais cursos para que outras pessoas sejam beneficiadas como a gente foi. Há outras mulheres que precisam também e que estão na sua casa sem renda, tendo que pedir ao companheiro”, acrescenta.
Ao possibilitar a criação de novos empreendimentos, por meio de cursos de capacitação e empreendedorismo, a Secretaria de Pequenos Negócios acaba por tornar-se um dos eixos que geram abertura de novos postos de trabalho. E é justamente isso que Mirla Nascimento pretende fazer.
Segundo ela, agora, que já conquistou suas clientes, os próximos passos são aumentar o salão e com isso abrir vagas de emprego para outras mulheres que, assim como ela, não tiveram oportunidades no mercado, mas têm garra e vontade de trabalhar para melhorar de vida.
Das mãos que desenhavam letras às mãos que dão cores a unhas
Imagine uma professora que trabalhava em escolas da zona rural, mas que sempre guardou consigo o sonho de ser manicura. Pode parecer estranho, mas não para quem conhece a amazonense Íris Nunes, mulher de sorriso marcante e com ideias criativas.
Até 2008 Íris trabalhava como professora. Ela dava aulas para crianças na área rural de Feijó. O salário não era ruim, garante ela, mas em 2009 ficou desempregada e viveu uma fase difícil, tendo apenas o marido para levar o sustento da família para casa.
Mas no segundo semestre do ano passado uma amiga de Íris que morava na zona rural da cidade chegou a Feijó com uma novidade: estavam oferecendo curso de manicura gratuito na cidade e as inscrições estavam abertas.
“No outro dia nós saímos bem cedinho e ficamos no local onde iam ser realizadas as matrículas. Nós nos matriculamos e ficamos o resto do dia lá fazendo o curso de empreendedorismo. Depois fomos fazer o curso de manicure, que durou um mês. No começo eu não acreditava. Na verdade, eu fui para o curso para fazer minhas unhas. A intenção não era seguir a profissão, porque aqui em Feijó já havia manicura, e mais uma ficaria sem gente para atender”, recorda.
Mas o destino provou a Íris Nunes que a realidade era diferente do que ela supunha. “Eu pensava que em Feijó havia muita manicura para pouco cliente. Mas aí o curso acabou numa sexta, quando foi no domingo apareceu uma cliente para eu fazer as unhas, e de lá para cá não parou mais”, celebra Íris Nunes.
Os cartões, a propaganda e o sucesso
Hoje, a ex-professora diz que não para de ser procurada pelas clientes e que somente fica em casa se optar por isso. O trabalho de Íris Nunes como manicura tem feito tanto sucesso em Feijó que ela se viu obrigada a mudar sua estratégia na divulgação dos serviços que presta.
“A Jaci [Jaciara Rodrigues] me deu a ideia de fazer uns cartões de visita com meu telefone para as pessoas me conhecerem. Aí fiz e comecei a distribuir meus cartões. Foram poucos, mas um foi passando para o outro e os clientes foram aparecendo. Agora tem muito cliente e eu já até escondi meus cartõezinhos. Não estou mais dando conta de atender tanta gente”, conta ela, às gargalhadas.
E se surgisse uma oportunidade para Íris trabalhar como professora? Acreditem, ela garante que não aceitaria. “Eu quero continuar com a minha profissão de manicura. Não quero mais depender de ser empregada. Não quero mais. Eu quero ser empresária. Eu tenho um sonho e vou realizar, se Deus quiser”, diz decidida.
A amazonense que veio para Acre e constituiu família afirma que é muito grata ao governador Tião Viana e à equipe da Secretaria de Pequenos Negócios.
É com as lágrimas pelo rosto que ela diz: “Quero muito agradecer ao governo e ao secretário de Pequenos Negócios, que deram essa oportunidade que está sendo muito maravilhosa. Como mudou a minha vida! É muito gratificante trabalhar a semana todinha e quando chega na segunda-feira você ter 200, 300 reais no bolso para colocar o que comer dentro de casa. Sem essa oportunidade era muito difícil”, conclui.
Um coração de mãe onde sempre cabe mais um…
A última história que o leitor vai conhecer é a de Darcila Nascimento. Ela não é apenas uma mulher. É uma mulher de coração maior que suas proporções. Mãe de seis crianças – cinco adotivas -, ela largou o emprego de doméstica para assumir os cuidados dos filhos e voltou a ser dona de casa.
Darcila Nascimento decidiu tomar para si os cuidados de cinco crianças que moravam próximo à casa dela. As crianças foram abandonadas pelo pai e a mãe era viciada em álcool e drogas. Por vezes a mãe biológica saia de casa e deixava as crianças sem ter o que comer. A menor era uma bebê de poucos meses. Diante da situação lamentável em que viviam as crianças, a ex-empregada doméstica decidiu assumir as cinco crianças e as levou para sua casa.
“Para cuidar da pequenininha eu tive que largar o emprego de doméstica e voltar a cuidar de casa. Mas, para conseguir um dinheiro extra, comecei a lavar roupas ‘para fora’. O dinheiro era pouco, e às vezes, para dar conta dos pedidos, eu tinha que secar lençóis no ferro de passar em cima da minha cama”, conta.
Dona do próprio negócio com muito orgulho
A situação na vida de Darcila mudou quando um carro de som passou na rua em que ela mora anunciando que haveria curso profissionalizante de cabeleireiro na cidade. As inscrições estavam abertas e eram gratuitas.
“Um dia eu estava no meu quarto e ouvi o carro volante passando e falando que iria ter esse curso, que o governador promoveria na Associação das Mulheres. Aí eu fui me inscrever com o coração, com aquela vontade, sabe? Sabia que ia dar certo. Eu tinha que acreditar”, diz.
Darcila Nascimento participou de todo o curso. No fim do período de aulas recebeu o kit salão de beleza, e logo que se encerraram as aulas ela decidiu que abriria seu salão. De maneira bem improvisada, ela mudou o filho de quarto e montou o salão na área da frente de casa, onde antes era o quarto de um dos filhos.
Logo que abriu o salão, Darcila Nascimento começou a ganhar clientes que moravam nas proximidades de sua residência. Já no primeiro mês de trabalho em seu novo ofício de cabeleireira, conseguiu ganhar mais que o dobro do que ganhava lavando roupa para terceiros ou até mesmo como doméstica.
Com o que ganhou, a cabeleireira também conseguiu fazer uma ampliação em sua casa e construir o espaço do salão, devolvendo ao filho o antigo quarto que foi durante algum tempo o salão provisório. “Graças a Deus eu só tenho a agradecer. Sou dona do meu próprio salão. Eu fui juntando dinheiro e fiz uma poupança para construir meu salão. Foi muito bom. Minha vida mudou muito, e para melhor. Hoje eu tenho meu próprio dinheiro”, comemora.
Darcila Nascimento encerra a conversa com a reportagem contando que, quando decidiu ir em busca de seu sonho de ser cabeleireira, ouviu de algumas pessoas que a proposta da Secretaria de Pequenos Negócios de levar cursos profissionalizantes para as mulheres de Feijó seria apenas uma promessa que não seria cumprida.
“Eu quero aqui deixar um recado para as pessoas que disseram que nós não íamos sair de ‘limpadeiras de chão’ quando ouviram dizer que o governador iria oferecer esse kit salão para a gente. Hoje eu quero dizer que dou graças a Deus por essa oportunidade porque não trabalho mais de doméstica, não lavo roupas nem sou mais faxineira. Tenho meu próprio negócio, ganho o meu dinheiro e digo para as pessoas que acreditem nesse projeto”, declara.
Hoje Darcila Nascimento é um exemplo de mulher empreendedora, mãe e batalhadora. Timidamente ela conta que a renda mensal saltou de cerca de um salário mínimo para três ou quatro vezes isso.
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