Ventos fortes sopram a favor desse importante setor da economia no Estado e provocam crescimento em ritmo acelerado
Imagine-se indo às compras: no supermercado você coloca no carrinho iorgutes, as bolachas do café da manhã, os biscoitos das crianças, aquela castanha fatiada para o tira-gosto. Além de refrigerantes, água mineral, sorvetes, polpas de frutas, temperos e condimentos, charque, linguiças, queijos, manteiga, sem esquecer os produtos de limpeza: sabonetes, xampus, detergente, água sanitária e sabão em barra. Na hora de passar pelo caixa, tudo é colocado em sacolas plásticas.
Agora você vai reformar a casa. Para a obra, serão necessários vários produtos, entre eles argamassa, tinta, tubos e conexões, forros, armários, telhas de alumínio, piso de madeira, móveis.
Já fez as contas de quantos produtos diferentes há nesta lista? Parou para pensar o que artigos tão diferentes entre si têm em comum? A resposta é simples: todos eles são fabricados no Acre. Surpresa? A indústria acreana tem surpreendido pela equação ritmo de crescimento, empregos gerados e investimentos realizados na última década. E não acaba por aí.
O Estado também produz barcos, carrocerias de caminhão, laminados de madeira, preservativos, e até mesmo o transformador de energia instalado no poste em frente à sua casa pode ter sido produzido aqui.
O ambiente favorável para a expansão industrial, a localização geográfica – que deixou de ser empecilho e se tornou estratégica graças à saída para o Pacífico – e a política de incentivos criada pelo Governo do Estado são a resposta para este desenvolvimento.
Transformações no Estado levaram ao desenvolvimento da indústria
Não foi por acaso nem de uma hora para a outra que a indústria acreana se desenvolveu e hoje tem, por exemplo, a Laminados Triunfo instalada em seu parque industrial. A empresa instalada no estado é a principal exportadora de compensados de madeira tropical certificada do país. Uma série de mudanças foi necessária para que as condições se tornassem favoráveis para este desenvolvimento.
O secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, César Dotto, considera que o Acre passou por três momentos estratégicos nos últimos dez anos. O primeiro foi a melhoria institucional do Estado, quando foram preparadas as instituições e o funcionalismo público. Outro momento importante – e determinante – foi a melhoria da infraestrutura na capital e no interior: escolas, estradas, aeroportos, parques.
"Nesse meio tempo fomos preparando algumas políticas públicas para o setor industrial. Uma que eu considero das mais importantes é a Comissão de Incentivo à Atividade Industrial, a Copiai, e todos os seus instrumentos, como a concessão de terrenos para indústrias – desde que se instalem no Acre, gerem empregos e desenvolvimento – e os incentivos fiscais", destaca o secretário.
Mas, não bastava ter uma política industrial generosa. Era preciso atrair investidores. A questão era como atrair empreendimentos de R$ 20 milhões para uma região que poucos empresários com esse potencial no Brasil conhecem?
"Então, que estratégia nos teríamos para alavancar estes produtos? Foi quando o governo tomou uma decisão de promover vários produtos potenciais. Por exemplo, a castanha. É um produto importante e decidimos que não deveríamos sair com a castanha in natura daqui. Então investimentos em fábricas e fizemos parcerias com cooperativas", explica Dotto. O mesmo aconteceu com a borracha, a madeira, e está acontecendo com os óleos da Amazônia, como a copaíba.
Os investimentos nos distritos industriais são outro exemplo de política pública do Governo para incentivar o desenvolvimento do setor. O Parque Industrial, que hoje gera mais de 800 empregos e recebeu investimentos privados de mais de R$ 200 milhões, está sendo ampliado em 50 hectares para abrigar novas indústrias, e a maior procura é por empresas do ramo alimentício. Uma indústria de leites longa-vida espera apenas a disponibilidade do terreno para se instalar em solo acreano. Ela vai processar cem mil litros de leite por dia e gerar 120 empregos diretos.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac) o crescimento observado no setor nos últimos anos se deve à organização do Estado, que planejou de forma acertada e deu continuidade às políticas públicas, viabilizando o setor industrial a partir do momento em que buscou recursos para investimento no Acre.
Hoje a indústria da construção civil é a mais aquecida, graças ao grande volume de obras públicas em andamento: infraestrutura, prédios públicos, saneamento, ruas, estradas. "O campo da habitação é especial, por demandar mais mão-de-obra já que as máquinas não dão conta dos detalhes necessários. Outra vantagem é que grande parte dos insumos são produzidos no estado, aquecendo toda a cadeia econômica", ressalta o presidente.
NÚMEROS DA INDÚSTRIA ACREANA | ||
86 empresas acreanas receberam incentivos da política industrial do Governo do Estado | Estas empresas geram hoje 1.891 empregos diretos | O faturamento anual do período 2007/2008 foi superior a R$ 134milhões somente nestas empresas |
13 mil Empregos diretos na indústria acreana em 2009 | 1.150 Indústrias instaladas no Acre até o final de dezembro de 2009 |
Dos 13 mil empregos na indústria acreana, oito mil são da construção civil, o que demanda pelo menos mais oito mil marmitex diários, oito mil pãezinhos para o café da manhã todos os dias, oito mil uniformes. É um setor que aquece todos os outros. "Apesar dos índices que mostram que a indústria vem crescendo, chegará uma hora em que o volume de obras vai diminuir e desaquecer o setor da construção civil. E a grande expectativa é o setor da madeira, com o manejo", analisa Salomão. A indústria madeireira é que mais cresce hoje no estado e a que tem mais possibilidades de se desenvolver, porque há matéria-prima em abundância. A conclusão da BR 364 vai aumentar ainda mais o potencial do setor, criando possibilidades para que as indústrias se instalem em municípios como Feijó e Tarauacá, o que já está acontecendo. "A questão do manejo no Acre já está definida, o que legaliza o comércio e coloca o Acre à frente de vários estados do país".
Pólo logístico vai atender a "extensão da indústria"
A indústria produz. Mas, para chegar ao consumidor final, o trabalho de um grupo de empresas que transportam e distribuem os produtos é fundamental. Consideradas a extensão da indústria, o setor vem ganhando atenção especial e deve receber, em breve, um espaço exclusivo para este desembaraço de mercadorias.
"Rio Branco cresceu, o trânsito aumentou e muitas destas empresas estão no centro da cidade. Não dá, por exemplo, para estacionar uma carreta para descarregar produtos alimentícios em horários de pico. Já há restrições da prefeitura em relação a licenças, horários para carga e descarga porque realmente esta movimentação ficou muito difícil. É uma preocupação comum ao Governo, Prefeitura e empresários", esclareceu Dotto.
A solução para o problema é a criação de um pólo logístico, um espaço que reunirá todas as empresas distribuidoras e transportadoras, onde as carretas sejam descarregadas e os produtos transportados em veículos menores, de melhor locomoção dentro da cidade. Serão beneficiadas cerca de 35 empresas que trabalham com distribuição e transporte.
"Estamos pensando num local estrategicamente localizado e que funcione como uma espécie de Ceasa, como centro distribuidor de produtos alimentícios. Será na região da BR 364 ou Via Verde, estamos localizando uma área de 20 a 50 hectares", explicou o secretário.
Porto seco promete desburocratizar as exportações
Localizado estrategicamente na BR-317, próximo à BR-364, o porto seco será criado para facilitar a vida dos empresários da indústria. Lá eles poderão fazer todo o desembaraço alfandegário e aduaneiro da mercadoria, num único local.
"O Acre é a principal entrada da Bolívia e do Peru e o porto seco é um instrumento extremante interessante para o mercado de comércio exterior. O empresário acreano poderia fechar um container aqui, desembaracar aqui, e daqui sair para os portos do Peru. É um futuro, mas é um futuro próximo", explica o secretário César Dotto.
ZPEs são a grande aposta da Fieac
Um local onde seriam instaladas grandes indústrias, com pelo menos 80% de toda produção voltadas para a exportação. A matéria-prima, comprada no estado ou importada, seria adquirida com tarifa zero de imposto. As indústrias instaladas neste espaço seriam isentas IPI, Confins e PIS/Pasep (inclusive para importação) e do Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), para aquisição de bens e serviços no mercado interno ou externo. Todos estes benefícios – e mais alguns – são oferecidos para atrair grandes empresas. Com todos estes atrativos, o que o Estado ganharia com isso? Geração de emprego e renda, com utilização de mão-de-obra local, e desenvolvimento da economia.
Esta é a proposta das Zonas de Processamento das Exportações, as ZPEs, uma proposta trazida para o estado pelo senador Tião Viana e defendida pela Fieac, com exemplos de sucesso como o caso do Ceará. A legislação sobre o tema foi regulamentada pelo presidente Lula e coloca o Brasil em pé de igualdade com outros países que já atentaram para as possibilidades de crescimento econômico que as ZPEs prometem proporcionar.
"A experiência internacional mostra que esses pólos produtivos são instrumentos eficientes para promover as exportações e o crescimento da indústria, atraindo investimentos estrangeiros e nacionais. Suas operações são absolutamente compatíveis com as regras da Organização Mundial de Comércio (OMS)", ressalta o presidente da Fieac.
O estado Ceará, onde as ZPEs são exemplo de sucesso, tem investimentos de € 60 bilhões nas zonas de processamento de exportações. A localização geográfica acreana não é mais vista como empecilho. Virou atrativo e a saída para o Pacífico mais uma vez aparece como carta na manga no jogo do crescimento econômico: "A função da ZPE é justamente desenvolver a região em que está instalada e a conclusão da BR até Cruzeiro – onde temos grandes indústrias de manejo madeireiro se instalando – e da Interoceânica, além do complexo hidrelétrico do rio Madeira, que vai proporcionar uma energia barata porque o custo da linha de transmissão será muito pequeno e teremos uma energia de qualidade, abundante e estável – são atrativos muito grandes. Estamos às portas do mercado asiático, que é o que mais cresce no mundo", observou Salomão.