E o velho se fez novo

Plasacre transforma lixo em matéria-prima para produtos inovadores

Já pensou em cobrir sua casa com telha de plástico? E em tantas outras utilidades que este material pode ter? (Foto:Sérgio Vale/Secom)
Já pensou em cobrir sua casa com telha de plástico? E em tantas outras utilidades que este material pode ter? (Foto:Sérgio Vale/Secom)
Já pensou em cobrir sua casa com telha de plástico? E em tantas outras utilidades que este material pode ter? (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Já pensou em cobrir sua casa com telha de plástico? E em tantas outras utilidades que este material pode ter? (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Já pensou em cobrir sua casa com telha de plástico? E construir a cerca da sua chácara com estaca plástica? E que tal morar numa residência com madeira fabricada com… plástico? E se tudo isso, antes de ser um artigo de plástico, era o lixo da sua casa, que foi reciclado? Sim, no primeiro momento pode soar estranho tantos produtos feitos com o derivado do petróleo, ainda mais sabendo que o lixo virou luxo. Mas, guarde bem esta matéria-prima. Num planeta que implora para ser sustentável, consumir de forma consciente parece ser o mínimo que cada um pode fazer.

Esta é  a proposta da Plasacre, uma indústria acreana, que há seis meses vem inovando o mercado com produtos fabricados a partir da reciclagem do plástico, que, lavado, moído, e remoldado vira o que a imaginação mandar ou o consumidor pedir.

Telha, mangueira, conduite e mourão de cerca integram o time de produtos da Plasacre que já estão em campo. Os próximos itens a integrar a lista podem ser caixas d’água, paradas de ônibus e brinquedos para parques infantis. “Nós transformamos o lixo em produtos de alta resistência, durabilidade, funcionalidade e preço acessível. Além disso, há um trabalho social e ambiental, quando nós damos um novo destino ao lixo que poderia poluir o meio ambiente. Estamos muito orgulhosos por desenvolver esse trabalho no Acre e prontos para ampliar a linha de produção”, disse Eder Paulo, diretor comercial da empresa.

De plástico, do banco ao telhado

Na Plasacre, quase tudo é de plástico. O telhado dos prédios, os bancos da recepção, as paredes que fecham o galpão da fábrica. Só não é de plástico o carinho que os empresários Eder Paulo e Olavo de Castilho criaram pelo Acre, e a confiança que os fez fechar um empreendimento em São Paulo e apostar todas as fichas na terra de Galvez.

Juntos os empresários investiram no Acre R$ 15 milhões, metade financiado pelo Banco da Amazônia. Eder foi apresentado ao estado durante uma feira na cidade de São Paulo. “Um amigo participou e me ligou falando dos potenciais acreanos. Viemos a Rio Branco num grupo de empresários e conversamos com o prefeito, o governador, que na época era o Binho Marques, e iniciamos um processo para trazer a indústria para cá. Lixo é uma matéria-prima que tem em todo lugar, mas aqui nós encontramos acolhida, apoio, incentivos fiscais do Governo do Estado”, disse Eder.

O plástico para quase tudo

O plástico, matéria-prima derivada do petróleo, pode ser transformado em uma infinidade de produtos. Até madeira (plástica) para a construção de casas. E não pense que o material não é resistente. Os mourões de cerca, um dos produtos que já está em fabricação pela indústria acreana, duram até 50 anos e ainda carregam a vantagem de poder receber um tratamento químico antichamas. Em outras palavras: você vai construir sua cerca com um material reciclado, tirado do lixo que poluiria o meio ambiente, vai pagar mais barato, ter um custo-benefício bem maior que o das estacas de madeira e, de quebra, sua cerca não vai pegar fogo num eventual incêndio.

Os mourões de cerca foram aprovados pelo Exército Brasileiro, que está concluindo uma licitação, vencida pela Plasacre, para aquisição de 250 mil peças.

Além de mourões de cerca, telhas, mangueiras e conduites, que são os produtos que já fazem parte da linha da Plasacre, é possível produzir uma infinidade de artigos. “Estamos terminando uma proposta para a Prefeitura de Rio Branco, de sinalização da cidade com peças em harmonia com o meio ambiente”, explica Castilho.

{xtypo_quote} 100 anos. É o tempo que o plástico leva para se decompor na natureza {/xtypo_quote}

Lixo não, matéria-prima

Lixo não, matéria-prima (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Lixo não, matéria-prima (Foto:Sérgio Vale/Secom)


 

O Brasil produz 150 mil toneladas de lixo diariamente. Rio Branco produz 30 toneladas por dia. Eu e você produzimos de 300 gramas a um quilo de lixo a cada 24 horas. Pra onde vai tudo isso? A maioria vai para os lixões. Apenas 13% destes resíduos têm a destinação correta, que é o aterro sanitário. A capital acreana está entre as poucas cidades brasileiras que têm uma Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos. Ponto a favor. Mas, não é o suficiente. A coleta seletiva, que separa os resíduos facilitando a reciclagem, ainda é uma iniciativa tímida, mas, aos poucos, a população está aderindo e fazendo a sua parte.

É do lixo que vem a matéria-prima utilizada pela Plasacre. Sim, as telhas, mangueiras, bancos, mourões, placas de trânsito e tudo mais que você encontrar de produtos desta indústria, um dia, foram lixo.

Hoje a Plasacre transforma 100 toneladas de lixo por mês em matéria-prima para telhas, mourões e outros produtos. A meta, segundo Eder, é chegar a 300 toneladas em fevereiro, e, em seguida, 400 toneladas, que é a capacidade instalada da fábrica.

{xtypo_quote} 100 toneladas de lixo por mês viram matéria-prima na Plasacre {/xtypo_quote}

Campanha para coleta seletiva

A coleta seletiva do lixo é prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e já é uma realidade, embora tímida, em Rio Branco. A prefeitura realiza um trabalho de coleta seletiva com caminhão exclusivo e uma rota que passa por diversos bairros da capital, além de pontos específicos. Mas, ainda é pouco.

Preocupado em aumentar a oferta de lixo selecionado a Plasacre se prepara, junto com a prefeitura de Rio Branco e Governo do Estado, para lançar uma campanha de conscientização

{xtypo_quote} No Brasil, cada pessoa produz entre 300 a 500 gramas/dia, podendo chegar a 1 kg/dia nos grandes centros urbanos, sendo que 50% corresponde a sobras de alimento. {/xtypo_quote}

Quebra de paradigmas

Tudo o que é novo, a princípio, assusta. “Tem pessoas que já me disseram que não compram a telha porque tem que jogar água no telhado de vez em quando senão ela derrete. Imagine isso!”, comentou, entre risos, Eder. “Estamos numa fase de quebra de paradigmas, com produtos recentes no mercado, que até então não eram fabricados com plástico no Acre. Mas, se tivermos a oportunidade de argumentar, de apresentar as peças que fazemos, com certeza esses receios são derrubados”, afirma.

Num planeta que implora para ser sustentável, consumir de forma consciente parece ser o mínimo que cada um pode fazer (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Num planeta que implora para ser sustentável, consumir de forma consciente parece ser o mínimo que cada um pode fazer (Foto:Sérgio Vale/Secom)

Vantagens da telha plástica – São mais resistentes e suportam melhor os impactos se comparadas às telhas convencionais. Por serem fixadas com garras que pressionam as telhas umas às outras, oferecem um grau maior de segurança contra ventos e chuvas. O conforto térmico é garantido por um tratamento anti-UV, que faz refletir os raios solares, não absorvendo o calor. Como são mais leves (pesam até nove vezes menos que as similares de barro), exigem menor estrutura em madeira ou metal para suporte. E, de quebra, não criam limo ou fungos.

O bolso agradece

Ambientalmente correto, mais durável e mais barato. Se o meio ambiente agradece, o bolso do consumidor também se alegra na hora de pagar pelos produtos fabricados no Acre. “Uma estaca de madeira nobre custa R$ 16, sem o tratamento químico necessário para que ela dure, em média, 10 anos. Além de exigir certificação do Ibama. O mourão de plástico custa R$ 20 e dura até 50 anos. Além disso, pode receber um tratamento antichamas, acrescentando cerca de R$ 5 reais ao preço final. A economia alcançada com as telhas de plástico chega a 40%, porque ela exige menos estrutura. As vantagens financeiras são imensas”, garante Olavo Castilho.

{xtypo_quote} “Quero crescer na empresa” {/xtypo_quote}

Uma nova indústria traz, consequentemente, novos empregos. E oportunidade de trabalho para os jovens que ainda não tiveram a chance de acrescentar o item “experiência” no currículo. Simone Marisa, 20, está a sete meses na empresa e se orgulha do primeiro emprego. “Passei dois anos buscando um trabalho e a tal falta de experiência sempre dificultava. Aqui isso não foi problema e hoje o meu objetivo é seguir carreira aqui dentro, crescer, chegar a outro posto”, comenta.

Elissandro Lima também trabalha na Plasacre. Não foi seu primeiro emprego, mas ele passou seis meses desempregado, com dois filhos para criar. “Quanto mais indústrias tiver, mais emprego pras pessoas. Aqui é uma oportunidade que eu encontrei”, disse.

{xtypo_quote} “Eu sei o bem que a gente tá fazendo pro planeta” {/xtypo_quote}

Ela ganha pouco (média de um salário mínimo por mês), trabalha muito, e não tem boa parte dos direitos trabalhistas que um trabalhador com emprego formal, patrão e carteira assinada goza. Mas ela tem onde ganhar o pão de cada dia e levar para casa o sustento dos filhos. E, por isso, ela agradece a Deus.

A indústria de reciclagem do lixo gera pelo menos uma centena de postos de trabalho informais e Maria Martins, 47, é uma dessas trabalhadoras (Foto:Sérgio Vale/Secom)

A indústria de reciclagem do lixo gera pelo menos uma centena de postos de trabalho informais e Maria Martins, 47, é uma dessas trabalhadoras (Foto:Sérgio Vale/Secom)

 

 

A indústria de reciclagem do lixo gera pelo menos uma centena de postos de trabalho informais e Maria Martins, 47, é uma dessas trabalhadoras. “O lixo é lixo, ele é muito barato, custa muito pouco. Mas é o trabalho que a gente, e não é ruim. É na sombra, ninguém precisa ficar no sol quente atrás de catar latinha. E depois, a gente sabe que tá tirando do meio ambiente um lixo que ia entupir bueiros, poluir os rios. O trabalho que a gente faz é muito bonito e sei que, de algum jeito, a gente tá contribuindo pro bem do nosso planeta”, comenta.

Maria Martins faz parte do Projeto Catar há seis meses. A Ong é responsável por parte da coleta seletiva na Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos (UTRE), da prefeitura de Rio Branco, que é destinada à Plasacre. A primeira etapa do processamento do lixo é feita lá mesmo. Após a seleção, é feita a lavagem (apenas com água, pois o sabão também é prejudicial ao meio ambiente) e a moagem dos produtos.

{xtypo_quote}

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter