Valorizando personalidades que contribuíram ou ainda contribuem com a história dos 130 anos de Rio Branco, assim o prefeito Raimundo Angelim encerra seus oito anos de mandato. O reconhecimento pelas contribuições aconteceu por meio da Comenda Volta da Empreza, que neste ano chegou a sua 5ª edição.
A solenidade de entrega do troféu Gameleira, feito em bronze pela artista plástica Cristina Mota, e do diploma confeccionado em madeira certificada, aconteceu na noite de sexta-feira, 21, no Cinte Teatro Recreio, em frente a Gameleira, ponto histórico e que marca o início da capital como cidade.
Os homenageados
A Comenda Volta da Empreza possui três graus, relacionados a personagens que marcaram a história do Acre. Grau Fundador, tem como patrono Neutel Maia fundador do Seringal Volta da Empreza, na centenária Gameleira; Grau Comandante, cujo patrono coronel Plácido de Castro que combateu e venceu o exército boliviano expulsando-os das terras acreanas durante a Revolução Acreana; e o Grau Chanceler Barão do Rio Branco, que negociou o Tratado de Petrópolis que tornou o Acre um Estado brasileiro e deu nome a capital acreana.
Nesta edição foram homenageados a professora e escritora Robélia Fernandes, com o Grau Fundador; jornalista Elson Martins, fundador do jornal Varadouro, que anos 70 atuou na defesa dos povos da floresta, recebeu a comenda no Grau Comandante; e o Grau Chanceler Barão do Rio Branco foi concedido a Raimundo Irineu Serra, mestre Irineu, fundador da religião genuinamente amazônica do Santo Daime.
Homenagens especiais
A 5ª edição da Comenda Volta da Empreza teve duas particularidades. Duas personalidades foram homenageadas. O prefeito Raimundo Angelim prestou homenagem ao governador Tião Viana pelo trabalho na promoção da humanização pública e por seu legado na expansão da medicina no Acre; e os servidores da Prefeitura prestaram homenagem surpresa a Angelim pelos oito anos dedicados a gestão municipal com zelo e responsabilidade social.
Tião Viana também recebeu o troféu Gameleira de bronze das mãos do prefeito Raimundo Angelim. “Esta é uma homenagem justa a uma amigo, a um médico humanista que esta promovendo a humanização do serviço público e da maneira de fazer política”, disse Angelim.
Jorge Viana disse que a homenagem era justa a cada um dos homenageados. O senador lembrou que o prêmio alcança a alma acreana. Jorge falou da atuação militante de Elson Martins, da espiritualidade elevada que viu ser exercida pelo mestre Irineu durante visitas que fez ao lado do pai e do irmão ao mestre criador da doutrina do Santo Daime.
“Desde cedo o nosso pai nos colocou diante de toda a história do Acre e a gente começou a admirar isso. O Tião se aprofundou nesta área, como senador ele fez publicações nesta área. Ele trabalhou para que alguns desses personagens virassem heróis da pátria e estudou mais apaixonadamente sobre um dos patronos desse prêmio, sobre a biografia de Plácido de Castro. O Tião sempre demonstrou, como médico e neste seu começo de Governo, a paixão por essa história nossa, do nosso povo. Temos um espírito de nação no Acre, como diz Toinho Alves”, declarou Jorge Viana.
O senador confessou estar honrado em participar da entrega das últimas homenagens que Angelim faz em sua gestão e parabenizou o prefeito pela criação da premiação. “Parabéns para ti, Angelim e para Tião que merece essa homenagem”, afirmou Jorge.
Ao receber a homenagem Tião Viana disse se sentir honrado e grato. O governador agradeceu a generosidade do prefeito pelo ato da homenagem e a manifestação generosa de seu irmão Jorge Viana.
“É uma imensa honra participar como governador deste momento, uma noite muito especial. Uma noite em que estamos no Cine Recreio, ao lado de onde a cidade foi fundada. A homenagem que Angelim faz hoje é especial porque ele está homenageando uma religião, uma doutrina constituída pelo mestre Irineu com Antônio e André Costa pegaram a percepção e entenderam toda a mística do nosso ambiente constituiu uma doutrina. Tem uma homenagem a poesia da professora Robélia e uma homenagem ao jornalismo antropológico de Elson Martins. Não é o Tião que está aqui é o governo que está aqui”, comentou o governador.
Angelim concluiu dizendo que encerra seu mandato com muita felicidade por poder prestar reconhecimento a personalidades que fazem parte da historia de Rio Branco, cidade que ele foi cuidador por oito anos.
“Homenageamos três figuras fantásticas. A professora Robélia, Elson Martins e mestre Irineu Serra. Foi muito importante essa homenagem especial ao governador Tião Viana. A gente resgata um louco da nossa historia, valorizando a nossa cultura. Uma coisa que eu tentei muito nestes oitos anos foi que as pessoas voltassem a ter sonhos, voltassem a ter utopias porque as coisas concretas nós fizemos muitas, mas a coisa que mais me gratifica foi ter tentado tocar o coração das pessoas, ter elevado a auto-estima. Fico contente em receber essa homenagem da Eurilinda Figueiredo e dos Marcus Vinícius”, finalizou Angelim.
Saiba mais sobre os premiados*
*com informações de Juliana Machado, da revista Comenda Volta da Empreza
Robélia Fernandes – A professora Robélia Fernandes nasceu em Manaus (AM), mas mudou-se para o Acre com a família ainda criança. No Acre encontrou espaço para alimentar sua paixão pelas letras. Foi aluna do Colégio Acreano, formou-se em Letras na Universidade Federal do Acre (Ufac).
Robélia Fernandes, membro da cadeira número 35 da Academia Acreana de Letras, tem seis obras publicadas: Asas da Vida (1992); Conversa Afiada (1996); Bonequinha da Noite (2003); Converso Novamente (2004), Contos Avulsos e Contos Esparsos (2009) e, atualmente, prepara seu primeiro romance intitulado Memória dos Enredos.
A homenageada também teve seu talento reconhecido em premiação nacional em 2006, ocasião em que Robélia Fernandes foi premiada no concurso Talentos da Maturidade, promovido pelo extinto Banco Real.
Ao receber a premiação Robélia Fernandes, visivelmente emocionada, declarou que aquela era uma homenagem especialíssima para ela.
“Eu celebro essa honrosa homenagem, principalmente por vir de entidades culturais que contribuem com o desenvolvimento da nossa cidade. Fico honrada em receber o aval do nosso ilustre prefeito de Rio Branco, Angelim. Quero dividir a homenagem, todo esse jubilo, com as pessoas que estão comigo, com os acreanos, com meus filhos, netos, noras, confrades da Academia Acreana de Letras, com o governo do nosso Estado, Prefeitura, com as amigas do grupo Amigas para Sempre. Agradeço imensamente o espaço que a cultura tem cedido no Acre nos últimos anos”, concluiu a professora homenageada.
Elson Martins – O jornalista Elson Martins nasceu em Sena Madureira, no Seringal Nova Olinda, em 1939. O homenageado foi contagiado pelo jornalismo ainda na adolescência, período em deixou o seringal para estudar no Colégio Acreano e colaborou com o jornal O Selecionado, produzido por alunos do Colégio Acreano.
Mudou-se para Macapá (AP), em 1959, neste período participou do jornal O Castelo, produzido pelo Grêmio Estudantil do Colégio Amapaense. Depois, participou do jornal A Voz Católica. Em 1963 o jornalista mudou-se para Belo Horizonte. Na capital mineira estudou cinema, nesta época sonhava ser escrever críticas de cinema em jornais. Para manter os custos dos estudos trabalhou em rádios.
Foi numa das rádios que trabalhou que Elson Martins conheceu o amigo Tito Guimarães. Os jovens planejaram criar um jornal na Amazônia. Projeto que foi realizado anos depois. Antes, porém, Elson Martins decidiu unir-se a outros jovens e dar início a uma revolução. Tito e o jornalista acreano arrumaram suas malas e seguiram rumo ao Norte do país.
Martins tentou participar da Guerrilha do Pará, organizada por Carlos Marighela, mas antes escolheu despedir-se da namorada. Elson Martins nesta época não sabia que guerrilheiro não tinha família. Ao retornar para despedir-se da namorada o acreano foi expropriado da luta.
Voltou ao Amapá. Acabou sendo detido como preso político e embarcado para Belém (PA). Tentou estudar Química Industrial após receber uma bolsa de estudos, mas logo notou que este não era seu perfil. Partiu de Belém de volta ao Amapá e foi indicado por um amigo para ser corresponde do jornal O Estado de São Paulo. A indicação o ajudou a retornar ao Acre em 1975, casado e com dois filhos.
Em 1977, dois anos depois de seu retorno ao Acre, nasceu o jornal Varadouro que deu vazão aos embates entres extrativistas e fazendeiros. As reportagens do periódico escancaravam nas páginas do jornal a devastação promovida pelos pecuaristas e a exclusão a que era obrigado os povos que antes viviam da extração da castanha, seringueira, entre outros produtos na floresta sem devasta-la.
O Varadouro foi o primeiro jornal a veicular uma entrevista com o líder seringueiro Chico Mendes. Seguiu até 1981 mostrando a realidade da luta dos povos da floresta e sua ultima edição foi rodadas em dezembro de 81.
Por seu ativismo em prol dos povos da floresta Elson Martins teve seu trabalho reconhecido com o Prêmio Chico Mendes, em 2007, quando recebeu a homenagem na categoria Liderança Individual.
Ao ser homenageado com a comenda Grau Comandante, Elson Martins lembrou seu pai, que foi considerado herói acreano por lutar contra o domínio boliviano.
“A maioria destes que lutaram ficou anônima, meu pai lutou e ele morava nesta região próxima a Volta da Empreza quando eu tinha por volta de 16 anos. Então, estou feliz também por essa relação, esse retorno com o Acre, a cultura acreana que atualmente me interessa muito. Eu nasci num seringal e estou voltando filosoficamente”, comentou o jornalista.
Irineu Serra – Raimundo Irineu Serra nasceu no Maranhão, no final do século XIX, negro, seu avô era descendente de escravos africanos. Chegou ao Acre em 1912 e como seringueiro andou por Xapuri, Brasileia e Sena Madureira.
Na floresta mestre Irineu teve seu primeiro contato com a bebida sagrada ayahuasca – chá utilizado por povos indígenas brasileiros e peruanos feito da infusão da chacrona e do cipó jagube -. Foi na floresta que Irineu Serra soube, por meio de uma visão de Nossa Senhora da Conceição, a Rainha da Floresta, que seria fundador de uma doutrina espiritual, o Santo Daime.
Nossa Senhora concedeu a Irineu Serra a escolha de um dom. Ele optou pelo dom da cura, iniciando assim, sua jornada de dedicação e cuidados à comunidade que o acompanhou em sua missão de construir e edificar seu trabalho espiritual.
No dia 15 de dezembro mestre Irineu completaria 120 anos e comemoraria 100 anos de sua chegada ao Acre, lugar onde uniu a sabedoria milenar dos povos da floresta com a singularidade de diversas culturas e formou uma doutrina espiritual que tem como berço Rio Branco.
Na solenidade de entrega da Comenda no Grau Chanceler, mestre Irineu foi representado por sua esposa, madrinha Peregrina Gomes e pelo escritor Toinho Alves, que discursou em nome da família.
Toinho disse que a família sente-se honrada pela homenagem e agradecida. O escritor lembrou que viveu momentos importantes ao lado do mestre Irineu Serra. Alves ressaltou que durante sua vida o mestre recebeu personalidades políticas, públicas que o buscavam para receber aconselhamentos sobre como proceder na carreira.
“Mestre Irineu tem influencia na formação da cidade, mas essa influencia não se pode medir. Todos os homenageados nesta noite tem um ponto em comum. Todos trabalharam com a palavra para defender seus ideais”, concluiu.
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