Cães estão a serviço da lei

Bope conta hoje com sete cães. Dois treinados, cinco em treinamento (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Bope conta hoje com sete cães – dois treinados e cinco em treinamento (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O primeiro registro da frase “O cão é o melhor amigo do homem” foi feito durante um julgamento pelo advogado americano George Graham Vest, em 1870, quando defendia a morte de Old Drum, o melhor cão de caça de um fazendeiro local por outro fazendeiro. E é um fato. A importância do cão para o ser humano é muito maior do que se imagina. Tanto que o Batalhão de Operações Policiais Especiais do Acre (Bope-AC) sabe da capacidade desses animais e tem uma equipe formada por eles: a Companhia de Policiamento com Cães.

Hoje o Bope tem sete cães à sua disposição. Dois deles estão completamente treinados e a serviço do batalhão e outros cinco em fases diferentes de treinamento. Além disso, outros dois foram emprestados para a Força Nacional e estão em operações em Mato Grosso e Brasília.

São animais brincalhões, fortes, bem cuidados e bem treinados, que fazem real diferença no serviço policial, principalmente no combate ao tráfico de drogas e guarda e proteção. O reconhecimento é  tão grande que eles estão ganhando um canil completamente novo, com 20 boxes para os animais, clínica veterinária, maternidade e área de isolamento para os doentes. Novos cães também devem ser adquiridos em breve.

Treinamento pesado

O cão farejador na verdade associa o cheiro da droga a seu brinquedo favorito (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O cão farejador na verdade associa o cheiro da droga a seu brinquedo favorito (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O olfato de um cão tem 30 vezes mais tecidos sensoriais que o do ser humano. Essa capacidade permite que eles sejam adestrados para encontrarem inúmeras coisas, como drogas, fuga de gás, minas terrestres e pessoas soterradas. E é para o combate ao tráfico de entorpecentes que eles são principalmente adaptados, com um treinamento rígido, cheio de etapas e que pode levar até um ano.

“Algumas pessoas pensam que os cachorros se tornam viciados em drogas. De jeito nenhum. Eles não têm nenhum contato com a droga que não seja apenas o olfativo”, explica o capitão Flávio Inácio, do Bope. Basicamente, o treino consiste em fazer com que o cão goste muito de um objeto – no caso uma bolinha de tênis. Então a bolinha passa a ser jogada com frequência numa caixa com o produto para treino (entorpecente). O cachorro tenta pegar a bola e não consegue, mas começa a ligar o cheiro da droga a seu objeto preferido. Por isso, quando um cão farejador procura por drogas em operações, na verdade ele está procurando seu brinquedo predileto.

Entre os cães farejadores da companhia encontramos Kadafi, um dos poucos pitbulls do Brasil que trabalha com procura de entorpecentes, já que a raça não é considerada a melhor para a ação. Ainda assim, Kadafi é muito bem treinado. Com uma disposição impressionante, o cão é certeiro na procura por drogas, mesmo com o treinamento ainda incompleto.

Guarda e proteção

Aquiles é um dos cães que está  sendo treinado para guarda e proteção (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Aquiles é um dos cães que está sendo treinado para guarda e proteção (Foto: Sérgio Vale/Secom)

E se existem cães mais aptos a farejar drogas e há outros mais aptos à guarda e proteção, o pitbull Kadafi se destaca em dobro. “Nós íamos treinar o Kadafi só para farejar, mas ele gosta de morder, então o treinamos para proteção também”, brinca o treinador de Kadafi, o sargento Francisco Queiroz. Os cães para guarda e proteção são adestrados para receber claramente ordens de ataque, proteção, defesa e cessar suas ações.

Três pastores-alemães também fazem parte da corporação: Caná, Aquiles e Nina. São uma das raças mais comuns para cães adestrados pela polícia devido a suas capacidades físicas, além de serem mais dóceis. Os cães de guarda são usados principalmente em operações que exigem segurança em eventos públicos e fiscalização em entradas e saídas.

Aquiles, um desses pastores-alemães, já está bastante avançado em seu treinamento de guarda. E quem pensa que os cães são treinados para serem violentos está enganado. Toda a companhia de cães é bastante dócil e tem um relacionamento especial com seus treinadores. “A primeira fase do adestramento é a afinidade. Tem que ter brincadeira, carinho. Porque quando ele estiver no treino com o adestrador, esse é para ser o momento mais feliz do mundo para o cachorro”, reforça o capitão Inácio.

E embora para os cachorros o próprio treinamento seja uma diversão, não é fácil nem para os treinadores. No momento da demonstração de imobilização, o treinador do pastor-alemão Aquiles, Gláucio da Silva, olha para o pitbull Kadafi e brinca: “Não quero mais brincar contigo não. Dá última vez tu me deu uma queda que eu estou sentindo até hoje”. E o sargente Queiroz se orgulha: “A velocidade desse cachorro é tão grande que o homem pode ser um triatleta, ele vai cair”.

Uma pioneira se aposentando

Una é a pioneira no policiamento canino acreano e já está se aposentando (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Una é a pioneira no policiamento canino acreano e já está se aposentando (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Os cães treinados pela polícia não podem ser usados por muito tempo. Em geral, esse serviço dura sete anos, depois eles são aposentados, quase sempre mantidos nos canis policiais, com os mesmos cuidados, mas sem treinamento e sem participar das operações. No Acre, a primeira cadela a trabalhar com a polícia, em 2004 – época ainda da antiga Companhia de Operações Especiais (COE) -, é a Una, uma grande rottweiler dos olhos azuis-escuros que é a verdadeira estrela da Companhia de Policiamento com Cães.

Una é até chamada de “capitã” pelos soldados do Bope em respeito às suas ações. Pioneira, ela escreveu seu nome na história do policiamento ao se tornar tão capaz de farejar drogas que viajou para quatro Estados junto com a Força Nacional. Seu maior feito foi ter conseguido identificar onde estavam escondidos 90 quilos de cocaína durante uma operação em Belém do Pará.

Cães adestrados são animais tão especiais que um completamente treinado para farejar drogas e também ser guarda sai por até  R$ 20 mil, mas os do Bope-AC são treinados pelos próprios soldados. Todos os cães hoje foram doados, embora o Bope não aceite qualquer um – eles são previamente avaliados e, se considerados aptos, aceitos e treinados. Mas em breve o governo do Estado deve trabalhar para adquirir novos cães para o treinamento.

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