A Biblioteca da Floresta abriga agora um dos mais importantes presentes que o Acre poderia receber nos 50 anos de autonomia enquanto Estado. A família do historiador Leandro Tocantins cedeu parte do acervo pessoal do escritor, com milhares de documentos, fotografias e obras de arte. Tudo está à disposição do público num espaço dedicado à obra do paraense que aos nove meses de idade veio com os pais para Tarauacá, onde cresceu às margens dos rios e aprendeu a amar a o Acre.
A cerimônia oficial de entrega do acervo aconteceu na manhã desta sexta-feira, 15, no auditório da Biblioteca da Floresta, com a presença da viúva do escritor, Léa Tocantins, e da filha Rosane. “É um presente para o Acre nesta data tão importante com a riqueza desta obra. Quero dizer à família Tocantins da nossa gratidão, do nosso respeito e carinho por todo este acervo, que será muito bem cuidado e guardado. Todo acreano tem o dever de conhecer esta obra e o dever de conhecer nossa história”, disse o governador em exercício, César Messias.
Autor do livro Formação Histórica do Acre, uma das obras mais importantes da historiografia acreana, Leandro é autor de um vasto acervo literário. Seu primeiro livro foi lançado quando ele tinha 21 anos, “O Rio comanda a vida”, onde fez um estudo da importância e influência dos rios na vida dos povos da floresta amazônica. Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, foi também jornalista.
O diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso, tomado por um sentimento de grande emoção, revelou o nervosismo ante aquele momento, mesmo já tendo proferido algumas centenas de discursos ao longo de sua vida. Ele contou detalhes dos primeiros contatos com a família Tocantins.
“Nós chegamos ao Rio de Janeiro. Um grupo de estranhos para buscar o acervo do amor e do pai de uma viúva e suas filhas. Nos receberam com extrema elegância. E logo reconheceram a nossa simplicidade, o nosso respeito e nossa admiração por aquele homem. Quando ela [Léa] nos viu chorando, emocionados, e percebeu os nossos olhos, levantou, foi ela mesmo fazer um café, e quando voltou da cozinha nos disse que cederia os documentos para o Acre. Não acreditamos. Foram os nossos olhos, os olhos do Acre que ganharam esta família”, narrou Marcos Afonso.
Léa Tocantins disse que a doação foi uma decisão da família para que mais pessoas pudessem ter acesso aos documentos. “Nós escolhemos o Acre para abrigar todo o acervo porque o Acre era o amor do Leandro. E aqui é possível pesquisar, acessar todo este conteúdo. Era melhor que ficar trancado na nossa casa, onde só nós tínhamos acesso. Está muito bem guardado agora”, disse. A viúva do escritor e sua filha, Rosane, se emocionam em especial ao conhecer o espaço preparado pela equipe da Biblioteca da Floresta para acondicionar e expor o acervo.
O senador Jorge Viana participou da solenidade. “O meu pai é um apaixonado pela história do Acre e eu e meus irmãos fomos apresentados muito cedo a esta história. E a história do Acre era o Leandro Tocantins. Eu digo que ele nasceu em Belém porque está escrito, mas, para mim, ele nasceu no Acre, porque chegou aqui aos nove meses. Cresceu na foz dos rios e ninguém tinha mais autoridade que ele para escrever sobre os rios da Amazônia”, comentou se referindo ao historiador.
Para o senador, “uma das maiores revoluções que fizemos foi o reencontro do povo acreano com seus símbolos, suas histórias e seus heróis. E o Leandro Tocantins é um desses heróis dos cem e dos 50 anos do Acre”, disse.
Proclama Original da Junta Revolucionária do Acre faz parte do acervo
Escrito de próprio punho por Luiz Galvez Rodríguez de Arias, o espanhol que declarou o Acre um Estado Independente, o discurso que ele leu na praça pública de Puerto Alonso, às 9 horas do dia 14 de julho de 1899, agora está ao alcance dos olhos de todos os acreanos e apaixonados pela história. O discurso é o Proclama Original da Junta Revolucionária do Acre, que fundou o Estado Independente do Acre. Este é considerado um dos mais importantes documentos entre os milhares que foram doados pela família Tocantins.
A obra cedida contém manuscritos de Leandro referentes às pesquisas para formação histórica; fotolitos da versão original de Euclides da Cunha de O Paraíso Perdido, enviado à gráfica para impressão; acervo fotográfico; objetos pessoais; condecorações; certificados, quadros; ilustrações originais de Poty, Percy Lau, Marco Antônio, Nilson Pena, José Américo e outros artistas reconhecidos pela produção nacional utilizada em praticamente todas as suas obras. Além de correspondências de Gilberto Freire, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira de Castro, Erico Veríssimo e de tantos outros documentos referentes à sua trajetória pessoal e profissional. Os contatos, as viagens e os acervos pesquisados, os cargos e, sobremaneira, a sua inquestionável relação com a Amazônia. Tudo poderá ser acessado e analisado.
“Ele foi o autor de uma obra fundamental para se iniciar os estudos do Estado do Acre. Todo o material está sendo preparado e acondicionado de forma adequada e estará a disposição do público. É um acervo valiosíssimo, que ficará sobre os carinhos da Confraria da Revolução, um dos grupos temáticos da Biblioteca da Floresta”, disse Marcos Afonso.
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