A boa gerência política que viabilizou a BR-364 no Acre

A BR-364 ligou cidades e comunidades que antes viviam isolados (Foto: Arison Jardim/Secom)
A BR-364 ligou cidades e comunidades que antes viviam isoladas (Foto: Arison Jardim/Secom)

Aberta inicialmente no fim da década de 1960, a BR-364 sempre foi um símbolo do desejo de unir os extremos do Acre. Mas apenas a partir dos anos 2000 a rodovia passou a receber atenção real e investimentos para finalmente ser concluída.

A obra foi então executada pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Acre (Deracre), e o apoio do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff foi primordial. “Pela primeira vez, após 43 anos, o inverno não vai impedir o tráfego na estrada e as pessoas vão ter a liberdade de ir e vir”, disse o governador Tião Viana em 2011. Desde então, a BR permanece aberta.

Somados os investimentos entre 2011 e 2015, quando o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ficou totalmente responsável pela manutenção da rodovia, o governo federal garantiu mais de R$ 280 milhões para sua consolidação.

“O governo da Frente Popular precisou romper as dificuldades e os impasses burocráticos para pôr fim ao isolamento secular que o Acre vivia”, declarou o governador Tião Viana, em agenda com o Ministério do Transporte em 2013, quando pontuava também a necessidade de manutenção frequente, tendo em vista que chove, por ano, cerca de 2.700 milímetros em seu percurso.

Os investimentos só são realmente perceptíveis quando quem é beneficiado tem a oportunidade de mostrar a mudança. A cerca de 60 quilômetros da zona urbana de Tarauacá, a Vila São Vicente cresce às margens do Rio Gregório e é exemplo dos benefícios que a rodovia leva consigo.

"Antes vivíamos isolados, não tínhamos oportunidade", diz Maria Aparecida, da Vila São Vicente (Foto: Arison Jardim/Secom)
“Antes vivíamos isolados, não tínhamos oportunidade”, diz Maria Aparecida, da Vila São Vicente (Foto: Arison Jardim/Secom)

A presidente da Associação Agroflorestal dos Pequenos Produtores da Vila São Vicente, Maria Aparecida Nunes, explica como a rodovia fez nascer uma onda de mudanças para sua comunidade: “Primeiro foi a BR-364, depois a ponte que foi construída aqui na Vila São Vicente. Em seguida, o [programa] Luz Para Todos chegou, porque ninguém tinha energia. Podemos sair da vila, visitar as cidades de Cruzeiro do Sul e Tarauacá, temos acesso facilitado à capital Rio Branco. Antes vivíamos isolados, não tínhamos oportunidade”.

Com um trabalho épico, envolvendo esforço político e muita logística para que a obra fosse viável, a BR-364 começou a sua consolidação no fim de 2011.

Desde então ela nunca mais fechou por causa do período de chuvas, e de Rio Branco a Cruzeiro do Sul é possível viajar todos os dias e observar as vantagens que cidades como Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Mâncio Lima e Rodrigues Alves alcançaram.

Últimas etapas da ação emergencial na BR-364, com recursos conseguidos pelo governador Tião Viana (Foto: cedida)
Últimas etapas da ação emergencial na BR-364, com recursos conseguidos pelo governador Tião Viana (Foto: cedida)

A rodovia corta diversos rios, igarapés e outros corpos d’água, por isso sempre foi dependente de balsas nos principais rios como Purus, Envira, Tarauacá e Juruá.

Sensível à causa acreana e aos esforços do governo do Estado para que a rodovia ficasse completa e trafegável, o governo federal viabilizou a construção de todas as pontes ao longo da estrada.

Ao todo, são 54 ao longo da rodovia entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul – as quatro principais, por exemplo, foram concluídas na gestão dos governadores Binho Marques e de Tião Viana.

Foram disponibilizados mais de R$ 55 milhões para a construção das pontes dos rios Purus, em Manoel Urbano; Envira, em Feijó; Tarauacá, na cidade homônima; e Juruá, em Cruzeiro do Sul.

Etapas da rodovia

Situação da BR-364 no início dos anos 2000 (Foto: Arquivo Secom)
Situação da BR-364 no início dos anos 2000 (Foto: Arquivo Secom)

O trabalho na BR-364 não foi uma simples construção de rodovia. Foi a realização de um sonho da integração de um estado e em cada centímetro de sua obra uma saga da engenharia na Amazônia.

Para se ter uma ideia das condições inadequadas de solo, em alguns locais foi preciso cavar até 13 metros de profundidade e retirar o solo de tabatinga, muito barrento e pegajoso. Foram movimentados 36 milhões de metros cúbicos de terra.

Todos os fatores conspiraram para dificultar a construção: baixa oferta de materiais na região que a estrada cruza e ausência de brita e asfalto, que precisaram ser trazidos de Manaus (AM).

O aço veio do Rio Grande do Sul e o seixo, de Letícia, na fronteira colombiana, com a cidade de Tabatinga, no Amazonas.

A areia necessária para a mistura asfáltica e com melhor logística era extraída do Rio Envira, também no Amazonas, a sete dias de viagem de Feijó.

Todos esses desafios tornaram a obra de grande custo. Por exemplo: em média, a cada um quilômetro, era necessária a construção de galerias ou bueiros para os diversos cursos d’água que atravessam o caminho da estrada. Cada galeria custa até R$ 600 mil em uma rodovia de quase 700 quilômetros.

Agora, o Dnit é responsável pela manutenção da rodovia, e uma ação emergencial está sendo feita desde o ano passado, quando o governador Tião Viana conseguiu a liberação de R$ 78 milhões, pelo governo federal, para a execução das obras.

Trecho entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul em 2005 (Foto: Arquivo Secom)
Trecho entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul em 2005 (Foto: Arquivo Secom)

A próxima etapa é a recuperação do trecho entre Sena Madureira e o Rio Liberdade, em Cruzeiro do Sul. Para isso, em maio deste ano, o governador garantiu a liberação de R$ 230 milhões, pela União, por meio do Programa de Contratação, Restauração e Manutenção por Resultados (Crema), do Dnit.

Atualmente, a própria BR já oferece a possibilidade de transporte de pedra-rachão, crucial para uma base mais sólida e adequada para a região de muitas chuvas.

Até 2015, o Dnit só permitia em seus projetos de rodovia que a base fosse feita com cimento, o que ficou comprovado ser impróprio para o solo da região, extremamente argiloso.

Os últimos 16 anos foram cruciais para o Acre e sua BR-364. Nesse tempo, foi construída a base para que a rodovia se consolide cada vez mais e possa continuar guiando a história da população, que sai do isolamento físico e social.

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