Trilhas para o sucesso na carreira pública

Por Marky Brito

O que é importante para um servidor público estadual progredir na carreira? Sem dúvida, um bom ambiente de trabalho, ferramentas adequadas e um salário justo são condições essenciais, mas que não estão totalmente sob o controle do servidor. Por isso, a seguir quero compartilhar com você atitudes e processos que podem contribuir para o sucesso profissional do servidor estadual e sob os quais ele tem mais domínio.

São observações baseadas na minha experiência como servidor público estadual e em exemplos de colegas de trabalho que desenvolvem suas atividades com altíssimo nível de competência.

Compreender e sentir prazer fazendo parte da missão da instituição

Talvez sua secretaria seja muito grande e você faça parte de um pequeno grupo de servidores, cujo trabalho às vezes passa despercebido pela gestão. Mas tenha em mente que a missão central das instituições estaduais é atuar para que o Acre saia de um padrão insustentável nas áreas econômica, social e ambiental para um caminho sustentável, próspero e justo. Portanto, mesmo que haja dificuldades, participar da missão da sua instituição implica valorizar genuinamente a saúde econômica, ambiental e social do estado.

Para atingir as metas estipuladas, sua instituição planeja, elabora, monitora e conduz planos, programas, projetos e processos, cujo objetivo é diminuir ou resolver os graves problemas da sua área de atuação. Esse trabalho também envolve articular e desenvolver ações com outras secretarias e parceiros do governo federal, financiadores, governos estrangeiros, ONGs, sindicatos etc.

Portanto, apesar das inúmeras dificuldades, acredito que quem é servidor estadual deve sentir-se naturalmente estimulado a pensar sobre os problemas de cada área em que atua, em desenvolver e aplicar efetivamente soluções para esses problemas.

Habilidades

Dependendo da sua área de atuação, o trabalho que você realiza pode exigir múltiplas habilidades. Acredito que teremos mais chances de sucesso se nós, com o apoio da instituição, cultivarmos e  desenvolvermos várias dessas habilidades.

Habilidades Interpessoais

Parte de nosso trabalho exige que nos relacionemos com uma ampla gama de pessoas. Primeiro, nossas atividades são muitas vezes multidisciplinares, exigindo trabalho em grupo. Segundo, há momentos em que nossos trabalhos têm que ser amplamente divulgados e discutidos, exigindo diálogo com vários tipos de públicos (agentes governamentais e não-governamentais, líderes de classes, produtores rurais, políticos, empresários etc.).

Só há trabalho em grupo quando há respeito mútuo e humildade, necessários para saber receber e fazer críticas construtivas. Para dialogar com atores diversos, é preciso desenvolver tolerância e capacidade de negociar. Os interlocutores gostarão das suas ideias se elas forem boas e se eles simpatizarem com você.

Capacidade de comunicação oral e escrita

Comunicação oral e escrita primorosas são essenciais para realizar a comunicação interna e externa, obter financiamentos e divulgar o trabalho. Tanto a comunicação oral quanto a escrita exigem um conhecimento apurado da língua. Cursos de técnicas de redação podem ser necessários para atingir um padrão mínimo de qualidade. A comunicação oral exige técnica e confiança, a excelência vem com a prática persistente. Para alguns, é preciso procurar ajuda e treinar para vencer a timidez de falar em público.

Dominar línguas estrangeiras é indispensável no processo de conexão com o resto do mundo. Como o inglês é a língua mais comum fora do Brasil, recomenda-se priorizar o seu aprendizado. Uma meta inicial é ser capaz de ler textos técnicos para ganhar acesso à literatura internacional. A excelência chega mais fácil com a realização de cursos, intercâmbios e a prática constante.

Pelo menos ler fluentemente espanhol também é muito útil para saber o que nossos colegas da Bolívia, Peru e de outros países latino-americanos estão fazendo, além de que muitos organismos internacionais publicam também em espanhol. É natural que em determinado momento entremos em contato com pessoas e órgãos desses países, portanto, conhecer o espanhol também é necessário.

Dominar ferramentas analíticas e ter capacidade de síntese

Alguns de nossos trabalhos têm forte componente analítico, que é essencial para se chegar à síntese. Isso é ainda mais necessário quando se tem que analisar uma grande quantidade de dados e indicadores. O sucesso de um profissional no governo depende, portanto, da capacidade de analisar informações pertinentes ao problema em questão.

Geralmente, algumas atividades requerem usar ferramentas como a elaboração de propostas, diagnósticos e relatórios técnicos, termos de referência e contratos que envolvem a análise e compilação de dados, planejamento, legislação de compras e aquisições, gestão de contratos públicos, estatística, economia, métodos de análise política e social, métodos quantitativos para tomada de decisão (por exemplo, decisões envolvendo múltiplos objetivos) e técnicas de geoprocessamento.

As chances de sucesso aumentam à medida que se domina um grupo de ferramentas e desenvolve-se um conhecimento básico sobre outras. Assim, é possível liderar trabalhos em uma área e colaborar em outras.

Cruzar escalas e disciplinas

Os trabalhos no governo envolvem várias escalas de operação. Isso é necessário porque ações locais às vezes dependem de ações em escalas superiores e vice-versa. Por exemplo, pode-se começar a incentivar as atividades econômicas de cooperativas na escala local. Depois, pode-se ampliar a ação para a geografia econômica da atividade na escala regional e depois para todo o estado.

Políticas públicas desenvolvidas no estado também podem servir como modelo para o governo federal realizar atividades semelhantes em outros estados. Além disso, a discussão do futuro das atividades econômicas, sociais e ambientais no estado depende do entendimento do contexto das atividades no resto do Brasil e do mundo. Assim, alguns de nossos trabalhos exigem a capacidade de cruzar essas barreiras sem temor.

De maneira análoga, frequentemente nosso dia a dia nas instituições exige que analisemos os vários fatores que contribuem para um problema ou solução. Isso exige cruzar, sem medo, as barreiras tradicionais entre as disciplinas. Embora se fale muito em multidisciplinaridade, nota-se que, para muitos, esse é um exercício desafiador.

Capacidade de tomar iniciativa e liderar processos

O sucesso profissional em qualquer setor exige capacidade de tomar iniciativa e liderar programas, projetos e processos. No governo, quando consideramos a gestão de projetos, esse requisito é ainda mais importante. Cada profissional deve sentir-se responsável por gerar ideias e construir um processo que leve a sua execução. O processo envolve esboçar a ideia por escrito, discutir essa ideia com os colegas, melhorar a proposta, identificar possíveis financiadores, negociar para que a proposta seja incluída nos programas de governo e reunir recursos humanos e materiais para implementá-la.

A capacidade de fazer tudo isso não nasce da noite para o dia. Mas, é preciso reconhecer que desenvolver essa capacidade é essencial, em especial nos momentos de crise financeira, quando recursos públicos são escassos e devem ser utilizados da melhor forma possível para atender a sociedade. O aprendizado ocorre com leituras e capacitações sobre como desenvolver e liderar programas e projetos, mediante a participação no desenvolvimento de propostas com colegas mais experientes.

Retitude

Sucesso duradouro exige alto padrão ético. Pode parecer estranho lembrar isso para você, um servidor público talentoso e comprometido. No entanto, é importante lembrar que atualmente instituições governamentais que querem durar têm motivos extras para demandar um alto padrão ético. Somos servidores públicos, mantidos com recursos públicos ou de instituições privadas, por isso seremos frequentemente auditados quanto ao desempenho técnico e administrativo. À medida que órgãos públicos têm mais sucesso e se tornam mais visíveis, o escrutínio público sobre suas atividades tende a aumentar.

Por onde começar?

Essas observações podem assustar. Afinal, parece que o governo do estado quer servidores super-heróis multicapacitados. No entanto, penso que o importante, principalmente para quem está começando sua vida como servidor, é não se desesperar e começar com as áreas mais críticas e fundamentais. Para isso, é importante fazer uma autoanálise e de jeito nenhum ficar esperando que somente o governo capacite você.

  • Pense como anda o seu desempenho frente aos itens listados aqui.
  • Liste os itens nos quais você se considera menos desenvolvido.
  • Desenvolva alguma estratégia para se capacitar ou resolver os problemas mais emergentes.

Por exemplo, é difícil começar sem um bom conhecimento da língua materna e sem dominar alguma ferramenta analítica ou processual. Dessa forma, é necessário realizar um curso de redação e estudar alguma das ferramentas com a qual você sinta mais facilidade/afinidade. À medida que as deficiências mais fundamentais são vencidas, é essencial dedicar-se ao aperfeiçoamento e à exploração de novas áreas.

É importante também reconhecer que cada um tem pontos fortes e fracos e que não dá para ser excelente em tudo. Por isso, um dos segredos do sucesso institucional é que cada servidor se sinta disposto e capaz de repartir seus talentos e buscar ajuda com os colegas e supervisores para receber avaliações sobre o seu desempenho. Isso requer ao mesmo tempo generosidade, tolerância e humildade. Neste caso, estou à sua disposição para ajudar no que for possível.

 

Marky Brito, engenheiro florestal (UFRA), especialista em Gestão de Projetos (FGV), atualmente é chefe do Departamento de Estudos, Pesquisa e Indicadores da Seplag

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