União global

Quinta maior potência mundial reconhece o modelo de desenvolvimento sustentável do Acre

Dois estados com conexões profundas. Assim Steve Schwartzman, director do Environmental Defense Fund (EDF, sigla em inglês para Fundo de Defesa do Meio Ambiente), definiu o encontro do governo do Acre com parlamentares da Califórnia, dos Estados Unidos, afirmando que ambos os estados são líderes globais quando se trata de iniciativas voltadas para área ambiental e social. A reunião ocorreu neste domingo, 13, durante a Conferência do Clima COP23, em Bonn, na Alemanha.

O governador Tião Viana traduziu o encontro como histórico, pontuando que em uma articulação subnacional, governos estaduais, consolidam ainda mais a luta de um movimento socioambiental pela redução dos impactos ambientais e climáticos, que no caso do Acre, iniciou com o líder seringueiro Chico Mendes, na década de 1980.

O governador Tião Viana apresentou dados como a evolução do PIB acreano e a queda do desmatamento (Foto: Sérgio Vale/Secom)

A Califórnia mantém seu compromisso com o meio ambiente e clima, consequentemente com o bem estar da população, apesar da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, assinado por 175 países na COP21, em 2015. Para o presidente norte americano, Donald Trump, o acordo não era justo com os americanos.

Em uma corrente contrária, a Califórnia reafirma seu compromisso em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e promover políticas entre estados de vários países para consolidar iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, reconhece a importância mundial do Acre.

Não é exagero reconhecer a importância deste estado da Amazônia Legal. Afinal, de maneira ousada, com um Produto Interno Bruto (PIB) 700 vezes menor que o da Califórnia, assumiu o desafio de reduzir 300 milhões de toneladas de CO2 até 2020. Já o estado norte americano, no mesmo período, tem a meta de reduzir 360 milhões de toneladas. Esse exemplo mostra o compromisso que o Acre tem com o projeto que desenvolve há vinte anos, embora menor em termos econômico considera a sua floresta como seu principal patrimônio e a conserva.

O encontro foi realizado pela organização EDF. “Steven é um amigo de longa data do Acre, na luta pela construção de uma grande aliança com povos da floresta, com a academia, a ciência, as instituições. É um patrimônio da Amazônia”, ressalta Tião Viana, que em sua fala fez questão de mostrar que essa luta tem uma história iniciada por Chico Mendes.

Também participaram do encontro, o diretor do Earth Innovation Institute, Daniel Nepstad, a diretora da Força Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF), Colleen Scanlan Lyons, duas instituições parceiras do Acre, além do o senador Jorge Viana, e equipe de secretários.

Governador e demais integrantes da delegação acreana juntos com parlamentares da Califórnia e representantes de organizações (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Qualidade de vida, crescimento econômico e conservação da natureza são os três pontos fundamentais que o Acre busca em um projeto de 20 anos, que segundo o governador, teve início na gestão de Jorge Viana. Para a Califórnia, a quinta economia do mundo, não é possível seguir um outro modelo a partir de agora, e há uma expectativa em buscar formas de trabalhar junto com o estado brasileiro, declara a membro da Assembléia Legislativa da Califórnia, a parlamentar Cristina Garcia.

Classificado por Tião Viana como fundamental para o diálogo entre dois estados que querem consolidar cada vez mais essa equação, o encontro oficializou o convite para que os parlamentares visitem o Acre no próximo ano. E segundo, Cristina, a visita vai acontecer.

“Nós estamos aqui na COP23 demonstrando que fazemos nossa parte como pequeno estado da Amazônia, das cabeceiras dos rios. Nós somos capazes de assegurar desenvolvimento, qualidade de vida e conservação do meio ambiente”, disse o governador acreano.

Tião Viana falou ainda que o Acre está seguindo um caminho compactuado por todas as esferas da sociedade. “Nós podemos dizer de cabeça erguida, o Acre conseguiu aumentar seu PIB 400 vezes em 20 anos, ao passo que reduziu o seu desmatamento em 66%. É um estado que está mostrando o caminho, pactuamos uma relação de desenvolvimento, na qual todos fazem parte”, disse.

União na luta pelo clima

Encontro do GCF realizado em 2015, em Barcelona (Foto: Daniel Nardin)

Califórnia e Acre são parceiros de longa data, desde 2008, com a atuação conjunta na GCF, que reúne 38 estados de nove países em torno de uma agenda compartilhada pelo clima e promoção de uma economia sustentável.

A Força Tarefa foi criada em grande parte pelos estados norte-americanos, liderados pela Califórnia, e aderida desde o primeiro ano pelo Estado do Acre, hoje um membro fundador com forte protagonismo no fortalecimento desse esforço de colaboração mundial.

Sobre o encontro do Acre com a Califórnia nesse cenário da COP23, o senador da Califórnia Ricardo Lara, explica que não é apenas para promover laços que os unem como humanos, mas para ver como ambos podem trabalhar por seus cidadãos e para o mundo. “O Acre tem um papel muito importante em nível mundial na questão ambiental, como a Califórnia. São líderes e queremos que essa articulação dê frutos. Para mim é um prazer estar aqui para apoiar o trabalho que está fazendo o governador Tião Viana e também para demonstrar que o estado da Califórnia, o mais poderoso de nosso país e o 5º poder mundial, pode se unir a um estado como o Acre para ajudar na luta contra a mudança do clima e a humanidade”, enfatizou Ricardo Lara.

Steve reafirma que os dois estados estão em posições muito importantes e semelhantes. Afinal, assim como a Califórnia permanece no Acordo de Paris, diferente do posicionamento do governo dos Estados Unidos, o Acre também tem uma posição muito mais avançada e mais efetiva que o governo federal brasileiro.

“Existe uma grande discussão de como se pode colaborar internacionalmente para lidar com a questão de mudança climática. Como que o mercado de carbono da Califórnia pode se relacionar com os grandes avanços na redução do desmatamento que o Acre e os estados da Amazônia têm feito. Mas além disso, como o governador estava apontando, tem um campo muito amplo para investimentos sustentáveis na Amazônia”, afirmou Steve.

Posição dos Parlamentos

“O Acre de fato, nessa área de trabalhar os serviços ambientais da floresta, de ter recebido recursos de cooperação da Alemanha, é uma referência”, afirmou o senador do Acre Jorge Viana, pontuando que os debates na Conferência do Clima devem também dar voz aos governos subnacionais.

Como presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional (Câmara Federal e Senado), o senador destacou ainda a importância de investimentos na produção sustentável da Amazônia para potencializar a sua preservação.

“Ou nós entendemos que a floresta é um ativo econômico ou vamos viver esse drama de morar na região mais rica do planeta com pessoas passando necessidade. Por isso o governo do Acre vem, há anos, tentando encontrar uma maneira de fazer com que a gente possa receber uma remuneração por estarmos cuidando da nossa floresta e usando melhor nossas áreas já desmatadas”, disse Jorge Viana.

A parlamentar da Califórnia, Cristina Garcia, ressaltou o protagonismo do Acre e como isso deve ser refletido para que outros estados e países possam seguir. “Acredito que o Acre tem sido um modelo para outras comunidades de como avançar economicamente, preservar o meio ambiente e garantir que todos tenham empregos. Temos que pegar essa visão acreana e compartilhar para que outras comunidades possam fazer o mesmo”, afirmou.