Floresta de seringueiras

Acre faz pesquisa para investir em plantio de seringueiras. Alternativa é viável econômica, ambiental e socialmente

seringueira_foto_gleilson_miranda_11.jpg

Plantio de Seringueiras integra Política de Valorização do Ativo Ambiental (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Veja o video do Plantio de Seringueiras

Após 25 anos o Acre volta a plantar seringueiras, uma alternativa econômica sustentável e que ajuda a reduzir o efeito estufa através da absorção de gás carbônico. Outra grande vantagem é que a seringueira se encaixa no programa de Florestas Plantadas, da Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal, sendo uma alternativa viável e lucrativa para a regularização de passivos ambientais.

A Embrapa Acre está pesquisando clones resistentes ao mal-das-folhas, a doença mais comum entre as seringueiras, e que apresentem melhor desempenho de produtividade. A pesquisa é feita em parceria com o Governo do Estado através da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar – Seaprof –, Secretaria de Floresta – SEF e Deracre, com a Michelin (Plantações Michelin da Bahia Ltda), e com o Cirad (Centre de coopération internationale en recherche agronomique pour le développement) da França.

“Estamos trabalhando para contribuir de modo significativo para que o Programa de Florestas Plantadas com seringueira tenha êxito no Estado do Acre. Há uma demanda por borracha muito grande no Brasil e no mundo. Antes a borracha era o segundo produto mais exportado no país e depois de 1950 passamos a ser importadores. Há a necessidade da pesquisa com a seringueira para que possamos voltar a produzir borracha”, disse o pesquisador da Embrapa, doutor Rivadalve Coelho Gonçalves.

A seringueira é uma alternativa para que propriedades rurais com passivos ambientais sejam regularizadas. “O plantio de culturas perenes, principalmente seringueiras e castanheiras, através do programa de Florestas Plantadas é uma forma de regularização de passivos florestais. Como a seringueira demora seis anos para entrar em fase de produção, o plantio pode ser associado com a criação de animais de grande porte ou com plantio de culturas anuais, como o milho, que dá retorno financeiro mais rápido e auxilia no sustento da propriedade até que a borracha passe a gerar renda”, explicou o secretário Nilton Cosson, da Seaprof.

seringueira_foto_gleilson_miranda_04.jpg

Instituições parceiras trabalham para que o Programa de Florestas Plantadas com seringueira tenha êxito no Estado (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O Estado tem 211 mil hectares de áreas degradadas que podem ser transformadas em florestas de seringueiras. “São áreas que estão sem função social, ambiental ou econômica e são adequadas para inclusão em sistemas de produção. Se uma parte destas áreas for transformada em florestas de seringa podemos nos tornar o segundo maior estado produtor de borracha do Brasil, perdendo apenas para São Paulo”, disse Rivadalve.

Produtor aposta em floresta de seringueiras como alternativa econômica

seringueira_foto_gleilson_miranda_03.jpg

Produtor decidiu investir no cultivo de seringueiras pela viabilidade econômica (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A Fazenda Campos e Iguatu, no Bujari, é o palco da pesquisa que a Embrapa realiza. Além de um seringal antigo, a propriedade tem o seringal experimental em todas as etapas – jardim clonal, sementeiro, viveiro, plantio – e já deu início ao plantio comercial de seringueiras, o primeiro financiado pela Banco da Amazônia através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em toda região Norte.

O produtor Paulo Sérgio Peres optou por plantar as seringueiras junto com o milho, que dá retorno financeiro em um ano, enquanto as seringueiras demoram seis anos para entrar em fase produtiva.

Paulo Sérgio explica a vantagem econômica da seringueira: “Em 50 hectares de terra, o que me dá 10 hectares de seringueiras, consigo produzir 1,5 mil tonelada de borracha por ano, com a venda a R$ 2,4 o quilo e renda de R$ 30 mil. Em 10 hectares de pasto não consigo ter uma renda anual de R$ 30 mil, isso sem falar nos benefícios ambientais e sociais”.

Árvore ecologicamente correta

A cultura da seringueira pode contribuir em até três vezes mais para a redução dos efeitos do aquecimento global do que o eucalipto, espécie florestal mais cotada para geração de créditos de carbono. Um hectare de seringueira pode gerar créditos sobre mais de 1 tonelada de gás carbônico equivalente (CO2e), enquanto o eucalipto pode fixar cerca de 317 toneladas de CO2e na mesma área. O Governo do Estado estuda uma forma para intermediar a troca de créditos de carbono.

Uma tonelada de carbono corresponde a 3,67 t de CO2 equivalente. Uma molécula de borracha tem 5 átomos de carbono, portanto, uma tonelada de borracha natural seca possui 880 kg de carbono. A produção de 16 toneladas de borracha seca no Acre, em 2006, propiciou a fixação de 14 toneladas de carbono só em borracha. Outro aspecto interessante é que ao se utilizar uma tonelada de borracha natural, em substituição à borracha sintética produzida a partir do petróleo, deixa-se de emitir 4,8 toneladas de carbono para a atmosfera.

“A seringueira, que transforma o gás carbônico em borracha e ainda fixa carbono em sua estrutura, os certificados de emissões reduzidas poderão ser comercializados em mercados especiais e tornar-se uma grande fonte de renda adicional para o produtor”, ressaltou o pesquisador da Embrapa.

Clones

seringueira_foto_gleilson_miranda_06.jpg

Pesquisa da Embrapa produz clones de seringueiras com a mesma qualidade. Primeiros clones vieram da Bahia (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Todas as árvores de um clone possuem a mesma constituição genética, responsável pela uniformidade existente entre elas. Os clones, como material para implantação de um seringal, apresentam várias vantagens: a mais importante delas é a uniformidade exibida pelos seus indivíduos. Todas as árvores de um mesmo clone, sob as mesmas condições ambientais, apresentam baixa variabilidade com relação a diferentes caracteres, como vigor, espessura de casca, produção, propriedade do látex, senescência anual de folhas, nutrição e tolerância às doenças.

 

“Trabalhar com os clones é vantajoso porque você investe em árvores que sabe que são produtivas, resistentes e vão te dar uma uniformidade no seringal, pois vão crescer ao mesmo tempo, produzir ao mesmo tempo”, explica o produtor.

Paulo Sérgio explica que a fase mais difícil para implantação de um seringal é a preparação da área, mudas e o plantio. “O trabalho maior é implantar o seringal, depois a manutenção é fácil, não é como a pecuária que exige uma série de cuidados diários e constantes que além de tempo levam muito dinheiro”.

Ouro branco

A demanda por borracha cresce paralelamente ao PIB mundial. Foi observado nos últimos cinco anos que o consumo de borracha cresce em média a mesma taxa que o PIB, que teve um crescimento de 5%. Como a borracha é utilizada em todos os seguimentos industriais do mundo, quando a economia cresce, aumenta também a demanda por borracha.

O plantio de seringueira no Brasil não acompanha o crescimento anual do consumo, que é de 6% ao ano. O consumo atual brasileiro de borracha é de 340 mil toneladas por ano, sendo que 65% da produção é importada. A previsão é de que este consumo dobre em 12 anos, o que gera uma preocupação em relação a escassez do produto e abre expectativas ainda melhores para o mercado de borracha – onde a produção acreana vai encontrar um bom espaço.

O mal-das-folhas

seringueira_foto_gleilson_miranda_01.jpg

Pesquisador Rivadalve Coelho investe para criar mudas resistentes ao mal-das-folhas que atacam as seringueiras da região (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O “mal-das-folhas da seringueira” é uma das doenças mais comuns na espécie. Causada pelo fungo Microcylus ulei, é o principal empecilho para a expansão da heiveicultura no Brasil, principalmente na região Norte do país. O mal-das-folhas causa a queda prematura de folhas, podendo levar as plantas à morte. Na pesquisa realizada no Acre são estudados 14 tipos de clones para ver qual se adapta melhor ao Estado em relação a doenças e produtividade.

"O produtor precisa ter muito cuidado com esta doença, principalmente nos viveiros, local que concentra grande quantidade de plantas em fase jovem. A doença deve ser controlada e dentro do projeto de plantio devem estar contempladas as medidas necessárias para este controle, de forma a garantir uma produção de qualidade", explicou o pesquisador.


Veja o video  do Plantio de Seringueiras

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter