Doação de órgãos: um ato de amor sem fronteiras

A dona de casa Maria da Glória da Costa Silva, 55 anos, moradora de Cruzeiro do Sul, havia acordado algumas poucas horas após passar três dias inconsciente, em virtude da encefalopatia hepática, um agravamento do quadro de cirrose e hepatite B e delta, contra o qual já estava em tratamento há mais de três anos.

Sebastião da Silva, o filho mais velho, se preparava para ir trabalhar em uma localidade distante, quando recebeu a ligação tão esperada: havia um fígado disponível para a mãe em Rio Branco. Começou aí uma verdadeira luta contra o tempo e contra a distância para que Maria da Glória pudesse chegar a tempo para passar pelo transplante. A viagem à capital ocorreu via Tratamento Fora de Domicílio (TFD).

O doador era um jovem de 17 anos, morador de Belém, capital do Pará, morto em decorrência de traumatismo craniano. O transporte do órgão foi feito por uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB).

Na fila de espera por um transplante de fígado, a dona de casa passou por momentos muitos difíceis. A filha, Ana Lúcia da Silva, conta que foram tempos de muita aflição. “Era muito triste ver nossa mãe naquele estado, passando dias em coma hepático, debilitada, dependente e a gente sempre com aquele medo de ela não resistir e cada vez que havia uma crise, ser a última”, relata.

Ana Lúcia sorri com a expectativa de uma qualidade de vida melhor para a mãe após o transplante (Foto: Júnior Aguiar)

 

Passados três dias do transplante, Maria da Glória se recupera na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco. Ana Lúcia, que é a acompanhante, fala da emoção de ter a vida da mãe renovada graças a um ato tão generoso.

“Só podemos ser agradecidos a essa família que mesmo em meio a tanta dor decidiu doar os órgãos dessa pessoa. Agora, temos esperança de uma vida melhor para a nossa mãe e não tenho nem palavras para expressar o quanto estou grata.”

Esse já é o 23º transplante de fígado no Acre. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Acre foi o segundo estado que mais realizou transplantes de fígado por milhão de habitantes no primeiro trimestre de 2017, mas esse número poderia ser ainda maior.

Segundo levantamento da associação, a recusa familiar pela doação é de 50%.  “Essa é sempre uma das principais causas da não concretização da doação de potenciais doadores notificados no estado, por isso ainda é tão necessário trabalhar a conscientização das pessoas sobre a importância desta decisão”, afirmou Regiane Ferrari, coordenadora da Central de Captação de Órgãos do HC.

Desde 2006, além dos 23 de fígado, já foram realizados outros 271 transplantes no Acre, sendo 86 de rins e 185 de córneas.

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