A Furiosa: som, banda e batente

Em tempos de pandemia de Covid-19, tornou-se comum estarmos ligados nas famosas lives das redes sociais. No Acre, “A Furiosa”, banda da Polícia Militar (PMAC), é campeã nesse tipo de entretenimento, por meio do canal da corporação no Youtube. Com um repertório variado, que faz o público arrastar os móveis da casa e mexer o esqueleto, o corpo musical da instituição possui uma riqueza histórico-cultural gigantesca, que vai muito além da música e se confunde com a própria história do estado.

Sua trajetória remonta às batalhas travadas pelo exército comandado pelo patrono da corporação, coronel Plácido de Castro, que, segundo relatos históricos, possuía em sua tropa corneteiros que se deslocavam à frente dos soldados, além de uma pequena fração de músicos. Após a vitória e a organização territorial do Acre, a banda de música foi absorvida pela corporação, conforme as variadas transformações administrativas pelas quais a Polícia Militar passou.

Já nas primeiras décadas do século XX, o corpo musical estava presente nas companhias regionais e na Guarda Territorial. Com a efervescência cultural pela qual passava a capital acreana, Rio Branco, por volta dos anos 40 e 50, a banda ganhou reforço oriundo de Belém do Pará. Entretanto, os músicos paraenses, que vieram com o sonho de mostrar sua arte musical à população acreana, ao chegarem ao estado foram incorporados também aos serviços da construção civil.

Auxiliando na construção de estradas, escolas e prédios públicos, como o antigo aeroporto da capital, os músicos “pegavam no batente”, como é comum dizermos no jargão popular, durante a semana. Contudo, diferente dos demais militares, nos fins de semana eles não ganhavam folga, pois eram responsáveis pelo lazer e entretenimento, desde as tocatas de alvorada aos bailes que animavam a cidade.

Numa cidade, à época bem provinciana, em que todos se conheciam, a população sabia que os músicos pegavam no pesado a semana inteira, de sol a sol, e nos fins de semana tinham que fazer as apresentações musicais. As pessoas já tinham ciência de que os músicos estavam estressados pela jornada de trabalho quase escrava e começaram a chamá-los de “furiosos”, apelido que pegou e deu nome ao corpo musical da corporação, sendo usado até hoje.

A atual conjuntura organizacional da banda “A Furiosa” iniciou-se em 1974, quando a PMAC ganhou a denominação de Polícia Militar. Além das suas tradicionais apresentações ao público, o grupo tem se destacado com seus projetos sociais, como a Banda de Música Mirim e as tocatas em unidades de saúde da capital e do interior, que levam um pouco esperança aos corações, nos tempos difíceis pelos quais passamos.

“A Furiosa” possui uma história construída por filhos da nossa terra e por pernambucanos, paraenses e gaúchos, entre outros, que escolheram o nosso estado para ser sua morada e, assim como aqueles que na década de 50 faziam muito mais do que transmitir sua arte, hoje também contribuem com a segurança pública e o bem-estar da população acreana.

Wellington Mota é jornalista e cabo da Polícia Militar do Acre.Trabalha na Assessoria de Comunicação da corporação

Conheça o canal d’A Furiosa no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCI6_FB0LzGUF_O6LzDZuvZw

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