À beira do lockdown? O comportamento das pessoas e como isso influencia na tomada de decisões

Na história do Brasil, esta não é a primeira vez que vivenciamos epidemias globais. Já tivemos a gripe espanhola, febre amarela, varíola, sarampo, H1N1, entre tantas outras. Contudo, esta é a primeira vez que estamos experimentando estados do país considerando o uso de medidas extremas e, nunca vivenciadas, para o controle da contaminação comunitária, a fim de evitar o colapso dos setores da saúde com mortes desordenadas.

Desde de que a pandemia do novo coronavírus chegou ao país, com seu primeiro registro em 26 de fevereiro no estado de São Paulo, a orientação seguida pelas autoridades por onde a pandemia se espalha, é o distanciamento social ou quarentena, que nada mais é do que evitar sair de casa e o contato físico com outras pessoas, já que o vírus é transmitido pelo ar, se espalha muito rapidamente e não tem vacina.

Comércios fechados, restrições em aeroportos, trabalhos remotos e outras tantas medidas adotadas pelos governos do país, vêm sendo grandemente questionadas pela população, que se pergunta se é necessário mesmo tudo isso. Para compreender a gravidade da situação, precisamos primeiramente entender por que o coronavírus se espalha tão rapidamente e quais as consequências de não reduzir a curva de contaminação para o sistema de saúde.

O vírus infecta células do corpo humano e ataca órgãos vitais para a sobrevivência como pulmões, fígado e intestino. Há pessoas que quando infectadas, não sentem sintomas da doença, mas são altamente transmissoras e há ainda aquelas em que os sintomas podem causar a morte. Geralmente são pessoas com baixa imunidade e que fazem parte do grupo de risco, como idosos e pessoas com doenças pré-existentes.

Nos locais onde as medidas mais rígidas foram adotadas tardiamente, o número de mortos foi alarmante e gerou consequências insustentáveis para o sistema de saúde. Nem as maiores potências mundiais como, por exemplo, Itália e Estados Unidos, tiveram estrutura suficiente para dar conta de tamanha quantidade de pessoas internadas ao mesmo tempo. Sem contar os pacientes que chegavam precisando de internação por outros problemas. O resultado disso foram hospitais lotados, sendo obrigados a escolher quais pacientes seriam tratados e quais deixariam de receber os mesmos cuidados necessários. A situação vem sendo comparada a um período de guerra.

Em pouco mais de dois meses lidando com o problema, o Brasil, em 9 de maio, já tem mais de 150 mil infectados e aproximadamente 10 mil óbitos. Mesmo em período de quarentena, as pessoas continuam saindo, os números se mantêm elevados e os hospitais enchendo.

Com receio de que a situação vire um Deus no acuda, alguns estados já estão pensando em aderir ao modelo mais rígido de prevenção, chamado lockdown, realidade já vista no Maranhão, Pará e Ceará. Bahia deve iniciar neste domingo e Rio de Janeiro a partir de segunda. Com mais de mil casos de infectados e 39 mortes oficiais, o governo do Acre também já estuda essa hipótese e muita gente ainda tem dúvidas ou não sabe como funciona. Vamos lá.

O lockdown é a medida mais extrema que existe no quesito confinamento determinada pelo poder público. A palavra traduzida para o português quer dizer exatamente isso: confinamento. Ele exige decreto e a regra pode envolver a restrição da circulação de pessoas em espaços públicos ou privados com pouquíssimas exceções. Dependendo da gravidade da situação, o lockdown pode permitir a saída das pessoas em horários pré-estabelecidos, para realizar apenas serviços considerados essenciais, como ir ao mercado, farmácia e hospitais.

A medida tem como objetivo reduzir o risco de crescimento dos casos e dar tempo para o sistema de saúde se preparar para proporcionar o atendimento adequando às pessoas acometidas das formas mais graves da Covid-19. Segundo especialistas, em alguns locais onde há maiores índices de casos, a não adoção de medidas inéditas, pode levar a um período prolongado de escassez de leitos e insumos, com sofrimento e morte a milhares de cidadãos.

Em caso de lockdown, desrespeitar as normas pode caracterizar crime indicado no artigo 268 do Código Penal: infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, com pagamento de multas, pena ou detenção de até 1 ano.

Durante entrevista, o governador Gladson Cameli, deixou claro que medidas mais rígidas de isolamento social poderão ser tomadas se a população não colaborar. Para conter a pandemia e evitar que ocorra aqui, o que acontece em Manaus, no Amazonas, o governador não descartou a possibilidade de decretar lockdown nos próximos dias, portanto a população precisa ficar atenta.

“Se não ajudarem teremos que decretar o fecha-tudo (lockdown). Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance e tomar as medidas necessárias para não colocar a população em risco. Temos que evitar que essa pandemia exploda. Já temos mais de mil casos de contaminação e não conseguiremos barrar esse crescimento se a população não ajudar. Não estou medindo esforços na saúde pública para que os acreanos não sejam prejudicados. Na hora de tomar decisões tenho ouvido especialistas em saúde, principalmente, os infectologistas. Mas ainda existem aqueles que defendem o isolamento e têm aqueles contra. Parece que só quando infelizmente os casos chegam à família de alguém as pessoas tomam consciência da situação”, declarou o governador.

Lília Camargo é jornalista da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom).

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